por Giba Assis Brasil
em 30 de agosto de 2008
Conheci o Luiz Osório Teixeira através de seus filhos. O Álvaro Luiz foi meu colega de faculdade e nosso parceiro em vários roteiros, “Deu pra ti anos 70”, “Verdes Anos”, “Tolerância”, fora os que não chegaram a virar filme. O Paulo César “Foguinho” trabalhou comigo em várias coisas que só faziam sentido pra nós (inclusive o Não, que veio a se transformar no Não virtual), e agora trabalha com a Casa de Cinema em projetos de documentários. Com a Cláudia, que hoje é professora e era a única não jornalista da família, eu convivi menos. Assim como a dona Léa, que tem o mesmo nome da mãe do Gerbase e quase o mesmo da mãe do Nelson Nadotti (Déa), o que na época me fez pensar numa geração de mães com rima em pangéa, hiléa, panacéa: mulheres fortes, remédio pra tudo.
Luiz Osório, conhecido como “Barão”, criou em 1977 o jornal Kronika, talvez o órgão de imprensa alternativo mais duradouro no Brasil das últimas décadas: sem estar ligado a nenhuma grande empresa jornalística, teve circulação mensal durante 5 anos e depois quinzenal por mais 26 anos. No último sábado, o próprio Barão editou a Kronika número 501. Dois dias depois foi internado na Santa Casa. Morreu na noite de quinta-feira, 28 de agosto, de falência múltipla dos órgãos, aos 79 anos.
Foi na casa do Barão que discutimos os roteiros dos nossos primeiros filmes em super-8, em longas reuniões, divertidas e pouco produtivas, como tinha que ser. Estavam lá o Alberto Groisman, com a sua ironia inteligente; o Sérgio Lerrer, pragmático e contido; o Nelson Nadotti, inquieto e realizador; a Jaque Vallandro, outra que se foi muito cedo; e ainda o Zé Lima, a Rosângela Meletti, o Sérgio Karam, o Alvaro Magalhães, o Teo Meditsch, tanta gente. E os donos da casa: o Alvaro, quase sempre calado, observador, poeta; e o Foguinho, aglutinador, cheio de idéias, polemista; os filhos do Barão.
A casa era um velho sobrado na Azenha, na rua Nunes Machado, com paredes atulhadas de livros e com máquinas de escrever Olivetti em cada peça. Pensando nisso agora, a casa era a cara do Barão. Colunista de política, cultura e sociedade, eventualmente até de turfe, ele não era exatamente o jornalista combativo e revolucionário que eu queria ser, mas era um modelo de independência, de cara que se virava pra construir e manter o seu projeto. Conversei pouco com ele, mas às vezes trocávamos impressões sobre a faculdade, o jornalismo, a cidade.
Luiz Osório Teixeira nasceu em Santa Maria, mas se tornou um personagem de Porto Alegre.
Luiz Osório nos anos 1960.
TEM MAIS:
Notícia sobre a morte do Barão na Revista Press.
Homenagem da Assembléia Legislativa aos 20 anos do jornal Kronika, em outubro de 1997.
Segundo o Wikicionário, Kronika significa crônica em polonês e tcheco.