Ao trabalho

por Jorge Furtado
em 18 de outubro de 2008

Falar em prosa é coisa corriqueira
Mato que acha até quem não procura
Poesia é flor que nasce noutra beira
E onde floresce põe, na precisão, loucura.

Caros atores, amigos, cara equipe
Lá vamos nós então, mais um trabalho
Espero que nenhum de nós se gripe
Espero poucos cortes, nenhum talho

O sentido, como sempre, é a mistureba
Bocaccio e o Bardo, versos raros, grosserias
Um naco de chanchada, da ópera uma reba
Piadas, trocadilhos, patuscadas, ironias

Espero mourejar tal qual um mouro
Espero não achar ninguém xarope
Espero gargalhadas, algum choro
Espero, sobretudo, um bom ibope

Teremos algum sexo, é verdade
Mas só de faz de conta, respeitoso
O filme é pra agradar qualquer idade
Ou então o que dirá o Pedro Cardoso?

Espero, como sempre, o inesperado
A cor do fim da tarde, visitas de animais
O eco de uma frase, um som dobrado
Um corvo na janela e nada mais.

Que todos se divirtam e cumpram cronogramas
Decorem bem as falas, com atenção e zelo
Cuidem dos figurinos, vão cedo pras suas camas
E, por favor, não me falem de cabelo!

Não cheguem atrasados nas filmagens
Não deixem bagas fora dos cinzeiros
Não digam aos locais muitas bobagens
Mantenham-se casados ou solteiros

Da poesia o cinema é bom marido
A chama da palavra numa tela
A luz que aquece a casa do sentido
O i que se transforma numa vela

No fim, o filme, vez em quando arte
Tela que grava o brilho de um instante
O circo mal chegou e logo parte
Se for paixão, que seja fulminante.

18/10/2008