por Jorge Furtado
em 03 de dezembro de 2009
“Agora surgiu um vídeo, mais um vídeo, isso aí vai surgir muito, que foi obtido pela reportagem do portal IG*, que revela que quatro deputados federais do PMDB teriam recebido dinheiro deste mensalão. Aquele ex-secretário Durval Barbosa conversa com o dono daquele jornal Tribuna do Brasil, aquele que colocou dinheiro nas peças íntimas. E falava sobre tantos mil pra cá, tantos mil pra lá, e são mencionados textualmente, explicitamente os deputados (cita os nomes de deputados do PMDB) que “teriam recebido” e cita os valores que cada deputado “teria recebido”. Se isto, SE ISSO for verdade… a coisa já saiu dos limites do Distrito Federal e também do Democratas e já está entrando, está arrombando a porta de outros partidos”.
Comentário de Lucia Hippolito para a rádio CBN:
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Pergunta:
Quem “revela que quatro deputados federais do PMDB teriam recebido dinheiro deste mensalão”?
Lúcia: “Surgiu um vídeo (…) que revela que…”
O vídeo revela isto? Não.
Surgiu um vídeo onde um sujeito, que foi filmado recheando a cueca com maços de dinheiro, afirma que “quatro deputados…”.
A partir de uma única fonte, de baixíssima credibilidade e de cuja honestidade deve-se ao menos duvidar - já que ele foi filmado, em tese, cometendo um delito - a comentarista informa, aos seus milhares de ouvintes, ter surgido um vídeo “que revela que quatro deputados federais do PMDB teriam recebido dinheiro deste mensalão”. E cita o nome dos deputados.
Não tenho a menor idéia se os deputados citados pela comentarista são inocentes ou não da acusação que lhe faz, não o vídeo, mas o senhor Alcir Collaço, que aparece no vídeo. O que sei é que o nome destes deputados, a partir de hoje e para sempre, estará associado ao “mensalão do DEM”, não importa quantos desmentidos sejam publicados, não importa o que decida a justiça. O verbo “despublicar” não existe.
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Eliane Cantanhede e tantos outros hoje se valeram do esfarrapado “uma imagem vale por mil palavras”. Cony até inflacionou o clichê, na mesma página, disse que “uma imagem vale por dez mil palavras…”.
Pensei que o Millôr, ao virar o bordão do avesso, tivesse expulsado definitivamente esta bobagem dos melhores repertórios: “Uma imagem vale por mil palavras? Tente dizer isso sem usar palavras”.
A valiosíssima palavra “mensalão”, em sua versão PT ou PSDB, não tinha bons equivalentes em imagem. A melhor era a do funcionário dos Correios, do PTB. Desde o último fim-de-semana, a palavra mensalão despencou no mercado.
Uma palavra vale por mil imagens. Mensalão, sanguessuga, Alstron, aloprados, Satiagraha, marolinha, terrorista, estuprador, ladrão. E, é claro, também honestidade, justiça, política, jornalismo, ética, Brasil.
Imagino que para cada mil imagens de bundas nas revistas e na tevê, surja uma palavra “bunda”. Mostrar pode, dizer não.
Lucia Hippolito que, como fizeram tantos jornais hoje, assumiu o risco de divulgar a palavra de um suspeito de vários crimes sobre a honra de quatro pessoas, evita dizer a palavra “cueca”, que chama de “peças íntimas”.
http://tvig.ig.com.br/194175/novo-video-cita-nomes-do-pmdb.htm