O Nome da Casa

por Giba Assis Brasil
em 17 de janeiro de 2010

A Casa de Cinema de Porto Alegre, como a gente conta em alguma parte deste sítio, começou em dezembro de 1987 como uma proposta de cooperativa, terminou se formando como um condomínio de 4 produtoras e 13 pessoas, e só passou a ser uma produtora propriamente dita 52 meses, muitas discussões e algumas defecções depois, em abril de 1992.

O nome, o logotipo e o projeto inicial de funcionamento da Casa foram aprovados em novembro de 1987, poucos dias depois de a gente ocupar a nossa primeira sede, na rua Lajeado. O nome “Casa de Cinema” foi uma proposta do Roberto Philomena, homem de publicidade, ex-anchietano da turma do Jorge e do Gerbase, e nosso parceiro desde sempre. O logotipo da casinha cenográfica, com a árvore à direita e as escoras visíveis à esquerda, foi criado pelo Roney Papa, diretor de arte uruguaio que na época fazia dupla de criação com o Beto. E este foi um de seus últimos trabalhos: no natal daquele ano, Roney pegou a estrada para visitar seu filho em Montevidéu, mas um acidente o impediu de chegar lá.

Em setembro de 1989, recebemos um telefonema do cineasta Paulo Rufino, que afirmava ter uma empresa chamada “Casa de Cinema” desde 1983. E era verdade: eu inclusive já tinha participado de um debate na Farsul, apresentando e discutindo o filme dele “Os Homens do presidente”, sobre subsídios para a agricultura no Brasil. O Rufino jura que eu devia ter lido, nos créditos iniciais, uma cartela dizendo “Casa de Cinema apresenta”. Só posso dizer que eu não registrei, e ele provavelmente sempre vai achar que eu estou mentindo (ver comentário abaixo). De qualquer maneira, mudamos o nome do nosso condomínio para “Casa de Cinema de Porto Alegre”. Quando viramos uma produtora, em 1992, já foi com esse nome mais comprido e geograficamente explicado.

Mais adiante, em 1997, quando nos instalamos na internet, tínhamos que definir o nome de domínio do nosso sítio. “Casadecinema.com.br” era o nome óbvio, e o que foi recomendado pelos nossos técnicos de informática da época. Mas nós consideramos que este domínio era um direito do Paulo Rufino. “Casadecinemadeportoalegre.com.br” era um nome grande demais, e precisava de uma espécie de abreviatura, que terminou sendo “casacinepoa.com.br”. Vários anos depois, o nome casadecinema.com.br foi registrado na internet por uma videolocadora de Salvador criada em 2004. O Paulo Rufino teve que se contentar com o casadecinema.com.

A grande virtude do nome Casa de Cinema, é claro, é a sua simplicidade. Mas, a partir de um certo ponto, isso também passou a ser um problema. Durante muito tempo, pessoas ligavam pra nossa produtora perguntando que filme estava em cartaz: difícil imaginar uma casa de cinema que não seja, também ou principalmente, um cinema. Já tentaram nos impedir de participar de editais por pensarem que éramos um órgão público. Já recebemos propostas de parcerias que não faziam muito sentido, até nos darmos conta de que o parceiro, de boa fé, acreditava estar conversando com uma ONG. Pra mim, o máximo da confusão aconteceu quando uma simpática aeromoça me perguntou se eu trabalhava na Casa de Cinema Mário Quintana.

E nomes simples se multiplicam, independentemente da vontade de quem pensou neles há mais tempo - e quem é mesmo que pensou primeiro? Há pelo menos 20 anos existe uma terceira produtora brasileira com o nome “Casa de Cinema”, esta em Fortaleza, bastante ativa nas áreas de publicidade e propaganda política. Não sei quando foi criada ou extinta a “Editora Casa do Cinema”, de Santos, mas sua filmografia brasileira em dois volumes, organizada por Araken Campos Pereira Júnior, foi publicada em 1979.

Mais recentemente, foi criada a OSCIP Casa de Cinema da Bahia, que também funciona como uma produtora e que não tem relação com a videolocadora de Salvador - nem com as produtoras de São Paulo, Porto Alegre e Fortaleza, nem com a editora de Santos. Desde 2003, existe no Porto (Portugal) a Casa do Cinema Manoel de Oliveira. Em 2008, um grupo de animadores brasileiros criou o blog Casa de Cinema Stop Motion. No ano passado, um jovem realizador sul-matogrossnese projetou para breve a abertura da Casa de Cinema de Aquidauana. Agora, em janeiro de 2010, duas produtoras de Belém acabaram de anunciar a criação da Casa de Cinema do Pará, um espaço para exibição de filmes e realização de cursos. E assim por diante.

Mas Casa de Cinema de Porto Alegre só tem uma. Pelo menos por enquanto.

Por último: o Paulo Rufino que, 26 anos atrás, registrou a primeira produtora brasileira com o nome de Casa de Cinema, é desde outubro de 2008 diretor geral da TV Brasil, e não tem nada a ver com o pastor evangélico que hoje prega digitalmente através do sítio paulorufino.com.


COMENTÁRIOS

Enviado por Paulo Rufino em 18 de janeiro de 2010.

Pequena correção, Giba: nunca achei e ñ acharei q vc estava mentindo! Acho q a solução q vs deram, tendo gerado tantas confusões desnecessárias, ñ foi a mais adequada para ninguém! Mas parabéns pelo trabalho de vs e vamos em frente. Um grande abraço, Paulo Rufino

Enviado por Giba Assis Brasil em 18 de janeiro de 2010.

Obrigado pelo comentário, Paulo. E pela confiança. Abração.

Enviado por Dedé Ribeiro em 18 de janeiro de 2010.

Que maravilha, Giba. Vou te contratar pra escrever sobre o nome da “Liga”. Também temos confusões quando acham que somos da Liga de Combate ao Câncer e ficamos contentes quando acham que é a Liga da Justiça ou dos Super-Heróis! Beijos, seguindo sempre o blog de vocês!

Enviado por Giba Assis Brasil em 18 de janeiro de 2010.

Falsa modéstia! Quem conhece a Dedé sabe que há muito tempo ela faz parte da Liga dos Super-Heróis. A Liga Produtora Cultural é só uma fachada.

Enviado por Zë Pedro Goulart em 26 de janeiro de 2010.

Eu sempre fui contra o nome “Casa de Cinema de Porto Alegre”. E se a produtora quisesse se mudar para um prédio comercial em Florianópolis?