por Jorge Furtado
em 08 de abril de 2010
Na manchete da Folha, “Dilma prega” o voto PT-PSDB em Minas Gerais.
No subtítulo da Folha, “Dilma admite” o voto PT-PSDB em Minas Gerais.
No primeiro parágrafo da Folha, “Dilma defendeu que o eleitor mineiro” vote no PT-PSDB em Minas Gerais.
No meio da matéria da Folha, Dilma diz que “a gente não escolhe a forma pela qual o povo monta as alianças. É possível que ocorra” o voto PT-PSDB em Minas Gerais.
No fim da matéria da Folha, Dilma “defende a chapa híbrida” PT-PSDB em Minas Gerais.
Conhecendo o atual índice Folha de distorção, imagino que haja resquícios de jornalismo no meio da matéria: Dilma deve ter dito, respondendo a uma pergunta que o jornal não informa qual foi, que “é possível que ocorra” o voto PT-PSDB em Minas. Foi o que o repórter escreveu.
O “possível que ocorra” do repórter sobe os degraus da hierarquia da redação, cada vez mais longe da notícia e mais perto dos interesses eleitorais da empresa, vira “Dilma admite”, vira “Dilma defendeu” e na manchete, engordada pela voz do dono, vira “Dilma prega”.
“É possível que ocorra” o voto PT-PSDB de Minas não é notícia alguma, é possível que ocorra tudo em Minas, como é possível que não ocorra nada.
“Dilma prega” o voto PT-PSDB de Minas seria uma notícia, que o próprio jornal repercute e os programas de tv e rádio passam a “analisar” a partir de hoje.
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O que realmente foi dito na entrevista de Dilma na Rádio Itatiaia pode ser ouvido aqui, aos 01:50:
Repórter 1:
(…) Tem a história da “Dilmasia”. Tem gente falando, “e se de repente votarem Aécio Senador, Anastasia Governador e Dilma Presidente?”. A senhora acha graça desta história que está correndo em Minas Gerais?
Repórter 2:
Como foi o Lulécio?
Dilma:
(…) A gente não escolhe a forma pela qual o povo monta suas alianças e é possível que ocorra, como houve o “Lulécio”…
Repórter 1:
A “Dilmasia”.
Dilma:
Eu acho até melhor a inversão. (risos) Dilmasia é meio esquisito.
Repórter 1:
Anastadilma.
Dilma:
“Anastadilma” ou qualquer coisa assim. Eu estou raciocinando uma hipótese, eu não posso dizer que isso não vai ocorrer.
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Manchete da Folha: “Dilma prega voto PT-PSDB em Minas”
Do Houaiss, PREGAR:
verbo transitivo direto e intransitivo
1 falar (a um ou mais indivíduos) com intenção de convencê-lo(s) de uma crença; fazer (sermão)
2 propagar (uma doutrina); alardear, incutir, insinuar
3 falar (algo) com o intuito de ajudar, ensinar; dirigir, passar
4 exigir em voz alta ou com palavras fortes; bradar, clamar, vociferar
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Depois de distorcer as palavras de Dilma, a Folha “repercute” a distorção:
ANASTASIA DIZ QUE CHAPA “DILMASIA” NÃO TEM AMPARO NA REALIDAD
Maria Clara Cabral
da Sucursal de Brasília, 08/04/2010 - 13h03
O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), disse que entendeu as declarações de Dilma Rousseff como “um reconhecimento” ao governo do Estado. No dia anterior, em visita a Minas, a pré-candidata petista elogiou o ex-governador Aécio Neves e defendeu a chapa apelidada de “Dilmasia” ou “Anastadilma”.
Dilma falava sobre a eventualidade de ocorrer algo semelhante a 2002 e 2006, quando Aécio foi eleito governador, mas Lula foi o mais votado para presidente em Minas –o voto ‘Lulécio’.
Anastasia afirmou, porém, que a frase de Dilma não tem nenhum amparo na atual realidade política.
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Perguntas:
Dilma “defendeu” o voto em Anastasia? Onde? Quando?
Segundo a Folha, Anastasia afirmou que “a frase de Dilma não tem nenhum amparo na atual realidade política”. Qual frase de Dilma?