por Jorge Furtado
em 02 de novembro de 2010
É fato histórico a tentativa de golpe comandada pela oposição e sua imprensa a partir de 2004. A quartelada midiática - que incluiu o “caso mensalão” (nunca provado), a eleição de Severino Cavalcanti (com os votos do PSDB, DEM e outros partidos de oposição) e sua imediata deposição (com votos do mesmo partido), a tentativa (frustrada) de depor José Sarney, presidente do Senado, e dar posse a um vice de espinha mais flexível, um que pudesse acolher a tentativa de impeachment de Lula, a série interminável de factóides contra o governo (caos aéreo, falso “apagão”, cartões corporativos e suas tapiocas, falsos dossiês, etc.) - foi contida pela reação de Lula, que ameaçou botar sua turma na rua e incendiar o país, e pela cautela de FHC, que preferiu “fazer o Lula sangrar” até o que imaginava ser sua derrota nas urnas em 2006.
Lula virou o jogo e, apesar do “caso aloprados”, que levou a eleição ao segundo turno, deu uma surra de votos na oposição. No segundo mandato, Lula virou “o cara”, “acima do bem e do mal” (fala de José Serra), o presidente mais popular da história, preparando Dilma para sucedê-lo e estabelecendo as bases para o que promete ser um período de 20 anos de governo popular, capaz de reinventar o país.
A vítima de maior notoriedade desde período, que marca o fim da relevância política da antiga imprensa, é José Dirceu. Tenho pelo ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula, por sua postura no poder, frequentemente arrogante e autoritária, uma sincera antipatia. Demonizado pela antiga imprensa como “chefe de quadrilha” e “líder do mensalão”, Dirceu passou a ser evitado pela esquerda como se tivesse alguma doença contagiosa e malhado pela direita como um Judas de Sábado de Aleluia.
Animal político, Dirceu sabia que qualquer declaração sua durante a campanha seria usada contra Lula e Dilma. Uma fala sua na Bahia, dizendo textualmente que “não existe excesso de liberdade, pra quem já viveu em ditadura” virou imediatamente “Dirceu diz que há excesso de liberdade de imprensa no Brasil” em incontáveis manchetes. Fiz uma rápida consulta agora no Google (josé dirceu+excesso de liberdade) e encontrei 44 mil referências a textos que afirmam que ele disse o que não disse. A manipulação foi tão grosseira que até a Folha de S. Paulo teve que publicar um “erramos”. (1) Terminada a campanha, Dirceu foi entrevistado pelo Roda Viva, núcleo duro da cidadela direitista que virou a TV Cultura paulista. Pois se deram muito mal.
A participação de José Dirceu no programa foi irretocável. Ele respondeu com clareza cristalina a todas as perguntas que lhe fizeram os jornalistas, despreparados para falar sobre política a qualquer outro público que não seja os consumidores de manchetes e clichês a quem costumam se dirigir. Augusto Nunes, como era de se esperar da Veja, fez as perguntas mais agressivas, baseadas nos bordões que a mídia não cansa de repetir. O problema é que tais bordões (mensalão, chefe de quadrilha, “o que você acha do Ahmadinejad?” e outras tolices preconceituosas) só se sustentam se não receberem nenhum contraponto. Servem aos cérebros pouco ativos dos leitores de Veja, e a mais ninguém.
As respostas de José Dirceu desmontaram preconceitos e expuseram, de maneira categórica, a fragilidade da argumentação da direita brasileira e de seus arautos. Quando submetidos a qualquer contestação sólida, como a que lhes ofereceu José Dirceu, piam fino. O que não os impedirá, é claro, que, continuem, na covardia dos monólogos, a pregar aos tolos que ainda lhes dão ouvido.
Veja você mesmo e descubra como montanhas de clichês podem, tão rapidamente, virar pó.
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O desempenho de Dilma
Dilma venceu a eleição por mais de 12 milhões de votos. Seu desempenho eleitoral só não foi melhor que o de Lula. Teve mais votos, em números absolutos e também proporcionalmente, que Fernando Henrique Cardoso em suas duas eleições. Dilma venceria a eleição mesmo que fossem desconsiderados os votos dos candidatos no Nordeste - como alguns parecem desejar - onde ela ganhou de lavada. Dilma teve mais de 55 milhões de votos, tornando-se, provavelmente, a mulher mais votada da história da humanidade.
Isso é que é poste!
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(1) Folha de S. Paulo: “OPINIÃO (19.SET, PÁG. A2) Diferentemente do publicado no editorial “A mesma síndrome” e na análise “Texto da Casa Civil já é peça simbólica da radicalização do final da campanha” (Eleições 2010, 15/9), José Dirceu não disse, durante encontro com petroleiros na Bahia, que há excesso de liberdade de imprensa” no país. A frase incorreta constava de relatório sobre o encontro distribuído à imprensa pelo PT da Bahia.”