por Jorge Furtado
em 07 de maio de 2012
Na conversa telefônica gravada, com autorização judicial, entre o Bicheiro e o Araponga (hoje os dois estão presos), o Araponga transmite recados do jornalista, muitas vezes referido como o Caneta, editor da revista em Brasília.
O Araponga diz ao Bicheiro que o Caneta tem na mão “uma puta de uma matéria”, que vai sair na revista em duas semanas. Referem-se a invasão da casa de JD em Brasília. (Hoje se sabe que a espionagem foi feita pela quadrilha do Bicheiro, que escondeu câmeras de vídeo na casa de JD.)
Segundo a fala do Araponga, a invasão da casa de JD foi encomendada pela revista. É o que ele diz, transmitindo ao Bicheiro o recado do Caneta, que quer usar o vídeo: “Que naquele período que ele me pediu….”
Quem pediu? O Caneta.
Pediu o quê? O vídeo da casa de JD, num determinado período.
Pediu para quem? Para o Araponga.
O Araponga trabalhava para quem? Para o Bicheiro.
O Caneta não sabia que o grampo era ilegal? Que invasão de domicílio é crime?
O Caneta não sabia que o Araponga trabalhava para o Bicheiro?
O Caneta não sabia que o Bicheiro - com quem trocou centenas de telefonemas em 8 anos - era um contraventor?
O Chefe do Caneta não sabia como o Caneta conseguia seus “furos jornalísticos”?
Alguma outra dúvida?
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Ao sonegar a informação de que alguns membros da quadrilha de Cachoeira são jornalistas, que alguns veículos fazem parte da engrenagem do crime, os jornais e os jornalistas estão ofendendo seus últimos leitores. Muitos destes leitores vão ficar sabendo, ou pela revista Carta Capital ou pelos muitos blogs na internet, o que realmente acontece. E assim a credibilidade da antiga imprensa vai se esvaindo. É pena.
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Sobre as relações da imprensa com a quadrilha, aqui:
http://roteironews.blogspot.com.br/2012/05/da-utilizacao-da-imprensa-nos.html
TEMA PROIBIDO
Suzana Singer
A imprensa deve revelar sua relação com o bicheiro para que o leitor decida o que é eticamente aceitável.
A imprensa tem-se mostrado ágil e eloquente na publicação de qualquer evidência de envolvimento com o superbicheiro de Goiás, Carlos Cachoeira. Já se levantaram suspeitas sobre governadores, senadores, deputados, policiais, empresários, mas reina um silêncio reverente no que tange à própria mídia.
O sujeito nem precisa ter sido pego em conversa direta com Cachoeira, uma citação ao seu nome é suficiente para virar notícia -na semana passada, por exemplo, a Folha destacou uma tentativa de lobby no Ministério da Educação.
Já menções à imprensa, na grande imprensa, têm sido quase ignoradas. A Folha, que tem ombudsman para publicar o que a Redação menospreza, aparece em dois grampos, nada comprometedores.
Num diálogo, Cachoeira comenta nota do Painel, de 7 de julho de 2011, em que o deputado federal Sandro Mabel, de Goiás, nega ser a fonte das denúncias que derrubaram o ministro dos Transportes. O bicheiro se diverte e diz que foi o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) quem espalhou isso em Brasília.
Em outra conversa, o contraventor e Claudio Abreu, na época diretor da Delta, tentam evitar a publicação de uma reportagem. Primeiro, Abreu diz que “nós tamos bem lá”, mas depois lamenta não ter contato no jornal. “Queria alguma relação com a Folha.”
A Secretaria de Redação não identificou o assunto que incomodou a empreiteira, mas diz que, após o tal telefonema, “a Folha publicou duas reportagens críticas à Delta: uma falando de sobrepreço em reforma no Maracanã e outra sobre paralisação de obra em Cumbica”.
A “Veja”, que aparece várias vezes nos grampos, publicou apenas um diálogo em que é citada e colocou, no on-line, uma defesa de seus princípios (“Ética jornalística: uma reflexão permanente”). O artigo, do diretor de Redação, afirma que “ter um corrupto como informante não nos corrompe” e lembra ao leitor que “maus cidadãos podem, em muitos casos, ser portadores de boas informações”. Cabe ao jornalista avaliar “se o interesse público maior supera mesmo o subproduto indesejável de satisfazer o interesse menor e subalterno da fonte”.
Trocando em miúdos: mesmo sendo uma pessoa inidônea, Cachoeira pode ter fornecido à revista dados valiosos, que levaram a importantes denúncias de corrupção.
Do que veio a público até o momento, não há nada de ilegal no relacionamento “Veja”-Cachoeira. O paralelo com o caso Murdoch, que a blogosfera de esquerda tenta emplacar, soa forçado, porque, no caso inglês, há provas de crimes, como escutas ilegais e a corrupção de policiais e autoridades.
Não ser ilegal é diferente, porém, de ser “eticamente aceitável”. Foram oferecidas vantagens à fonte? O jornalista sabia como as informações eram obtidas? Tinha conhecimento da relação próxima de Cachoeira com o senador Demóstenes? Há muitas perguntas que só podem ser respondidas se todas as cartas estiverem na mesa.
É preciso divulgar os diálogos relevantes que citem a imprensa. A Secretaria de Redação diz que tem “publicado reportagens a respeito, quando julga que há notícia”. “Na sexta, entrevista com o relator da CPI tratava do tema e estava na Primeira Página. Já em abril havia reportagem de Brasília e colunistas escreveram a respeito”, afirma.
É pouco. Grampos mostram que a mídia fazia parte do xadrez de Cachoeira. Que essa parte do escândalo seja tratada sem indulgência, com a mesma dureza com que os políticos têm sido cobrados. Permitir-se ser questionado, jogar luz sobre a delicada relação fonte-jornalista, faz parte do jogo democrático.
Publicado na Folha de S. Paulo, 06.05.12
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Atualizado em 7.05.12
MÍDIA, DEMÓSTENES & CACHOEIRA
Por José Roberto de Toledo em 01/05/2012 na edição 692
Reproduzido do Estado de S.Paulo, 30/4/2012
Doutor e professor cresceram juntos, não na vida, mas no poder. Trajetórias sincronizadas: a cada favor trocado, um passo adiante e um degrau acima. De sua simbiose política surgem negócios, nomeações, sentenças, manchetes, facilidades. Doutor é a face pública da dupla, reluz nos palanques, tonitrua aos microfones. Professor articula nos bastidores. Deveria ser opaco, pois brilhar nas profundezas onde opera atrai atenção indesejada. Mas a vaidade nem sempre é controlável.
Para entrosar o jogo, falam-se várias vezes ao dia, encontram-se sempre que possível. Ao telefone, professor só chama o parceiro de doutor. Doutor retribui, íntimo: “Bom dia, professor. Tranquilo aí? Sossegado?” Ler os diálogos de doutor e professor no inquérito em que se transformou sua parceria é uma aula sobre como funciona parte do Brasil. A de cima. Aprende-se como usar o Estado para agradar o esposo, resolver problemas familiares ou alavancar grandes oportunidades de investimento. Do trivial completo ao banquete de verbas públicas, o cardápio satisfaz magros, gordinhos e ex-gordos.
Doutor quer comprar uma mesa na Argentina, presente para a mulher. Custa-lhe mais do que ganha em um mês como senador. Ao amigo, não reclama do preço, mas da alfândega: “Até que não é cara, mas é difícil de trazer.” O mimo excede 35 vezes o limite de compras no país vizinho. Pede uma mãozinha. “Pode comprar que eu dou um jeito”, tranquiliza professor. Professor precisa de um cargo público para a prima, mas em outro estado. Se fosse no seu, dispensaria intermediários. Como não é, pede a doutor que interceda junto ao colega de Senado que manda naquelas plagas. Após falar com o ex-governador, doutor explica que as nomeações de chefes regionais no estado vizinho são feitas pelo deputado da região. Carece aprovar com ele também, o que não chega a ser problema. Menos de duas semanas depois, a prima está nomeada.
Trivialidades desse tipo são cacos nas conversas da dupla. Na frequência dos bate-papos, banalidades são entremeadas com questões de Estado. Decisões de tribunais superiores misturam-se ao regozijo com a queda de um desafeto comum. Discussões de estratégias eleitorais seguem-se a considerações sobre negócios milionários. Doutor liga para professor e comemora que um magistrado supremo “mandou buscar” processo em instância inferior para julgar na sua corte. A ação envolve empresa do estado deles. “Deu repercussão geral pro trem aí”, resume doutor, no palavreado que reserva às conversas com professor. Não quer dar uma de tribuno com o amigo.
Noutras vezes, a conversa tem de ser em pessoa. Professor não mede recursos para ter o associado por perto com rapidez. Manda buscá-lo onde for: “Não esquece do avião, taí (te) esperando.” Doutor se desculpa: “Dei uma enrolada aqui. Tô chegando aí. Você vai estar na sua casa?”
Professor representa os interesses da empreiteira que mais recebe verbas do governo federal: pelo menos R$ 3,7 bilhões nos últimos 9 anos. Está preocupado com reportagem publicada sobre a empresa. Se o assunto esquentar, a empreiteira pode perder dezenas de milhões em contratos públicos. Doutor aciona seus contatos entre jornalistas e explica ao parceiro: o foco da investigação não é a empresa, mas um inimigo da dupla, que também fazia negócios com a empreiteira. Até que o azar cruzou a sorte da dupla. Mais especificamente os jogos de azar, atividade que impulsionou a carreira do professor.
Desde a prisão do professor, há dois meses, seu nome e o de doutor ganharam manchetes como nunca. Os dois caíram na boca do povo e nos dedos dos internautas. As pesquisas sobre ambos na internet viraram febre, especialmente no seu estado de origem. Nos primeiros 30 dias de estrelato involuntário, apareciam sempre juntos. Mas isso mudou. No último mês, doutor se recolheu, fugiu da ribalta e seu nome perdeu evidência, enquanto o do professor pipoca cada vez mais. Pela primeira vez em anos os caminhos dos parceiros se separaram. Não há mais telefonemas, muito menos visitas. A estratégia de um é se desvencilhar do outro: provar que as provas de cumplicidade, mesmo que verdadeiras, são formalmente inúteis. Querem apagar seu passado comum.
Já houve tempo em que doutor e professor rivalizavam para ver quem bebia os vinhos mais caros, quem tinha a mulher mais jovem e bonita, quem podia mais. Agora, disputam quem tem o advogado mais caro. Sua ascensão simbiótica foi interrompida. Outros doutores e professores se preparam para ocupar o seu lugar.
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O PROBLEMA DE VEJA É CRIMINAL, NÃO APENAS ÉTICO
Luis Nassif, 07/05/2012
Alguns analistas teimam em analisar o comportamento da Veja - nas relações com Cachoeira - como eticamente condenável.
Há um engano nisso.
Existem problemas éticos quando se engana a fonte, se adulteram suas declarações, desrespeita-se o off etc.
O comportamento da Veja é passível de enquadramento no Código Penal. Está-se falando de suspeita de atividade criminosa, não apenas de mau jornalismo. Sua atuação se deu na associação com organizações criminosas visando objetivos ilegais, de obstrução da Justiça até conspiração.
O acordo da revista com o crime organizado trazia ganhos para ambos os lados:
- O principal produto de uma revista é a denúncia. O conjunto de denúncias e factóides plantados por Cachoeira permitiram à revista a liderança no mercado brasileiro de opinião - influenciando todos os demais veículos -, garantiu vendagem, permitiu intimidar setores recalcitrantes. O poder foi utilizado para tentar esmagar concorrentes da Abril no setor de educação. Principalmente, fê-la conduzir uma conspiração visando constranger Executivo, Legislativo, Supremo e Ministério Público.
- A parceria com Veja tornou Cachoeira o mais poderoso contraventor do Brasil moderno, com influência em todos os setores da vida pública.
Há inúmeras suspeitas contra a revista em pelo menos duas associações: com Carlinhos Cachoeira e com Daniel Dantas que necessitam de um inquérito policial para serem apuradas.
Em relação a Dantas:
A matéria sobre as contas falsas de autoridades no exterior, escrita por Márcio Aith. O dossiê contra o Ministro Edson Vidigal, do STJ. Nele, mencionava-se uma denúncia de uma ONG junto ao CNJ. Constatou-se depois que a denúncia tomava por base matéria da própria revista (que sequer havia sido publicada ainda), demonstrando total cumplicidade da revista com o esquema Dantas.
A atuação de Diogo Mainardi, levando o tal Relatório italiano ao próprio juiz do caso. Na época, procuradores do MPF em São Paulo explicaram qual seria a estratégia de Dantas (contaminar o inquérito da PF com o princípio do “fruto contaminado”, as provas ilegais do relatório italiano) e sustentaram que Mainardi atuava a serviço de Dantas. Atacados virulentamente por Mainardi, procuradores federais de São Paulo recuaram.
A matéria falsa sobre o grampo no Supremo Tribunal Federal. O “grampo sem áudio”, entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres.
Em relação a Cachoeira:
O episódio do suborno de R$ 3 mil nos Correios, que visou alijar o esquema do deputado Roberto Jefferson e abrir espaço para o esquema do próprio Cachoeira. No capítulo que escrevi sobre o tema (na série O Caso de Veja) mostro que, depois de feito o grampo, Policarpo Jr segurou a notícia por 30 dias. Um inquérito policial poderá revelar o que ocorreu nesse intervalo.
A invasão do Hotel Nahoum com as fotos de Dirceu, clara atividade criminosa. A construção da imagem do senador Demóstenes Torres, sendo impossível - dadas as relações entre Veja e Cachoeira - que fossem ignoradas as ligações do senador com o bicheiro.
Levantamento de todas as atividades de Demóstenes junto ao setor público, visando beneficiar Cachoeira, tendo como base o ativo de imagem construído por Veja para ele.
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DELEGADO PAULO LACERDA ESPERA PEDIDO DE DESCULPAS DE GILMAR MENDES E DEMÓSTENES
por Bob Fernandes, no Terra Magazine
O delegado Paulo Lacerda, que por seis anos e meio dirigiu a Polícia Federal e a Abin durante os governos Lula, aguarda um pedido de desculpas. Ele espera (talvez sentado) que Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e o senador Demóstenes Torres reconheçam as respectivas responsabilidades nos seus dois anos e meio de exílio.
Início da tarde de 9 de setembro de 2008. A sessão vai começar em instantes. O delegado Paulo Lacerda, diretor da Abin, está na ante-sala da Comissão Mista das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional. Uma dezena de parlamentares na sala. Sorrateiro, quase sem ser notado, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), ex-secretário de Segurança Pública de Goiás, aproxima-se de Paulo Lacerda e diz:
-- Eu o conheço. Sei que o senhor é um homem sério e, com certeza, não está envolvido com estes fatos, com grampos. Estou aqui pessoalmente para lhe prestar minha solidariedade e demonstrar o meu apreço…
Exatos dois meses antes, a Polícia Federal havia prendido o banqueiro Daniel Dantas na Operação Satiagraha, comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, hoje deputado federal do PCdoB (SP).
No rastro da operação, e tornados personagens de reportagem da Revista Veja de 3 de setembro, o senador Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), denunciaram: tinham sido grampeados pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, dirigida por Paulo Lacerda.
O juiz Mendes, em companhia de outros ministros do STF, fora ao Palácio do Planalto “chamar o presidente Lula às falas”. Paulo Lacerda seria temporariamente suspenso de suas funções; depois, sob intensa pressão política, seguiu para o exílio. Por quase dois anos e meio, com a família junto, Paulo Lacerda foi Adido Policial na embaixada do Brasil em Portugal.
Nessa tarde de 9 de setembro de 2008, Lacerda ouve, perplexo, a manifestação de solidariedade sussurrada por Demóstenes, justamente um dos homens que o acusam de ter comandado grampos durante a Satiagraha. Acusam-no de ter ordenado, ou permitido, escuta ilegal contra um senador da República e um ministro do Supremo Tribunal Federal.
Recuperado da surpresa, percebendo a pressa de Demóstenes, prestes a deixar a sala, Paulo Lacerda responde ao senador:
-- Que bom que o senhor pensa assim, que vê as coisas desse modo. A sessão já vai começar e aí o senhor terá a oportunidade de dizer isso, de dizer a verdade, e esclarecer as coisas…
-- Tenho um compromisso, vou dar uma saidinha, mas voltarei a tempo - promete o senador Demóstenes Torres.
A sessão arrastou-se por horas. O senador Demóstenes, o acusador, não voltou.
Naquela tarde, o delegado Lacerda foi duramente questionado. E acusado de ter montado um esquema de grampos ilegais na Abin. Em vão, ele repetia:
-- Não comandei, não participei, não compactuei, nem tomei conhecimento de qualquer ilegalidade no procedimento da Abin…
Naquele dia, a estrela da comissão foi o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Às 16h53, Virgílio perguntou a Paulo Lacerda se o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tinha mentido ao dizer que a Abin possuía “equipamento de escutas”. Lacerda pediu ao senador para “fazer a pergunta a Jobim”.
Levemente exaltado, com um tom avermelhado na pele, o político amazonense bradou: disse não ser um “preso”, nem estar “pendurado” num pau-de-arara. E que Paulo Lacerda não estava “numa delegacia” e, sim, numa sessão do Congresso. Como acusado.
Fim da sessão. O senador Arthur Virgílio se aproxima de Paulo Lacerda e discorre sobre o que é a política:
-- O senhor entende… eu sou da oposição, temos que ser duros…
Paulo Lacerda é o delegado que comandou a prisão de PC Farias e a investigação do chamado “Caso Collor”, quando mais de 400 empresas e 100 grandes empresários foram indiciados num inquérito de 100 mil páginas. Tudo, claro, dormitou nas gavetas do Judiciário, ninguém acompanhou nada e tudo prescreveu.
Anos depois, no governo Lula e com o Ministério da Justiça sob direção de Márcio Thomaz Bastos, por quase cinco anos Paulo Lacerda dirigiu - e refundou - a Polícia Federal. A PF teve, então, orçamento que jamais teve ou voltaria a ter.
Mais de 5 mil operações foram realizadas, centenas de criminosos de “colarinho branco” foram presos, o PCC foi atacado em seu coração financeiro. Na Satiagraha, a PF, já sob direção de Luis Fernando Correa, dividiu-se. Uma banda trabalhou para prender Daniel Dantas e os seus. Outra banda trabalhou contra a Operação; com a estreita colaboração, digamos assim, de jornalistas e colunistas que seguem por aí.
Paulo Lacerda, no comando da Abin, foi acusado por um grampo que nunca ninguém ouviu, que, pelo até hoje se sabe, nunca existiu. Demóstenes e Gilmar Mendes, por exemplo, nunca ouviram o suposto grampo; souberam por uma transcrição.
De resto, aquele teria sido um grampo inédito na história da espionagem. Não flagrou nenhum conversa imprópria. Um grampo a favor.
A Polícia Federal, ao investigar o caso, não encontrou vestígio algum de grampo feito pela Abin. Mas, claro, a notícia de inexistência do grampo saiu em poucas linhas, escondida, aqui e ali.
Quase quatro anos depois, caiu a máscara de Demóstenes Torres, o homem de muitas faces. Uma delas abrigava em seu gabinete uma enteada do amigo, o ministro Gilmar Mendes.
Paulo Lacerda voltou do exílio. Toca sua vida. E aguarda que Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, entre tantos outros, lhe peçam desculpas.
PS do Viomundo: O caso do grampo sem áudio e o exílio de Paulo Lacerda são dois dos episódios mais grotescos da história recente do Brasil. Sabemos hoje que Jairo Martins, o que grampeava, serviu ao mesmo tempo a Cachoeira (ou seja, a Demóstenes) e foi “personal araponga” de Gilmar, segundo o Estadão, citado no relatório da Procuradoria-Geral da República sobre a operação Monte Carlo. Jairo poderia, em tese, ter gravado o diálogo espírita entre Demóstenes e Gilmar, reproduzido por Veja para comprometer a Satiagraha - livrando o banqueiro Daniel Dantas - e Paulo Lacerda. Felizmente, Jairo poderá esclarecer o episódio quando for chamado a depor. Quanto aos jornalistas e colunistas que, segundo Bob Fernandes, “seguem por aí”, são aqueles que propagaram as versões condenatórias de Paulo Lacerda de forma acrítica e sem ouvir o outro lado, que tanto dizem respeitar. Basta consultar os arquivos.
Publicado também em:
http://www.viomundo.com.br/denuncias/bob-fernandes-e-quando-vao-pedir-desculpas-a-paulo-lacerda.html