por Jorge Furtado
em 23 de agosto de 2012
A pergunta é do cientista político búlgaro Ivan Krastev, em sua fala para o TED.
No momento em que o Brasil relembra que a política - sem a qual não há democracia - atrai e revela o que há de pior nos homens, em que a mídia joga luzes seletivas sobre tantas malfeitorias e provoca a sombra que oculta outras tantas, em que candidatos a cargos públicos assumem que emoções valem mais que idéias, em que a internet, que aproxima, também cria guetos, uma conversa sempre entre iguais que só faz ampliar desigualdades, em que o desejo egoísta de lucrar e consumir substitui e impede aspirações coletivas, neste momento, defender a relação de confiança entre o cidadão e a política é uma tarefa nobre.
Segue o link para a fala no TED, uma tradução para o português e uma transcrição do texto, em inglês.
Ivan Krastev: a democracia é possível sem confiança
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Temo que eu seja um tipo de palestrante que você espera não encontrar no TED. Primeiro porque eu não tenho celular, estou do lado seguro. Depois, um cientista político que vai falar sobre a crise da democracia provavelmente não é o tema mais excitante que você pode imaginar. E mais: eu não vou dar a você nenhuma resposta, estou bem mais empenhado em acrescentar algumas questões sobre este assunto. E uma das coisas que eu quero questionar é a esperança, muito popular nestes dias, de que transparência e abertura podem restaurar a confiança nas instituições democráticas.
Há mais uma razão para você suspeitar de mim. Vocês, a Igreja de TED, são uma comunidade muito otimista. Basicamente vocês acreditam na complexidade, mas não na ambiguidade. Como lhes foi dito, eu sou búlgaro. E, de acordo com as pesquisas, nós somos o povo mais pessimista do mundo. A revista The Economist escreveu um artigo analisando um dos recentes estudos sobre a felicidade e o título era “Os felizes, os infelizes e os búlgaros”.
Agora que você já sabe o que esperar, aí vai a história. É um dia chuvoso de eleição em um pequeno país - que pode ser o meu país, mas poderia ser também o seu país. E, por causa da chuva, até as quatro horas da tarde ninguém apareceu nas sessões eleitorais. Depois que a chuva parou, as pessoas foram votar. Quando os votos foram contados, três quartos das pessoas tinham votado em branco. O governo e a oposição ficaram simplesmente paralisados. Porque você sabe o que fazer com protestos. Você sabe quem prender e com quem negociar. Mas o que fazer com pessoas que estão votando em branco? Assim, o governo decidiu convocar novas eleições. E desta vez um número até maior, 83 por cento das pessoas, votaram em branco. Basicamente, eles foram às urnas para dizer que não tinham ninguém em quem votar.
Esta é a abertura de um belo romance de José Saramago chamado “Ensaio sobre a lucidez”. Na minha opinião, ele retrata muito bem uma parte do problema que temos com a democracia na Europa nos dias de hoje. Em um certo nível, ninguém está questionando que a democracia é a melhor forma de governo. A democracia é o único jogo na praça. O problema é que muitas pessoas começam a acreditar que não é um jogo que vale a pena jogar.
Durante os últimos 30 anos, os cientistas políticos têm observado que há um declínio constante na participação eleitoral, e as pessoas que estão menos interessadas em votar são as que, é o que você espera, tem mais a ganhar com as eleições. Quero dizer, os desempregados, os menos privilegiados. E esta é uma questão importante. Porque especialmente agora, com a crise econômica, você pode ver que a confiança na política, que a confiança nas instituições democráticas, foi realmente destruída. De acordo com o último levantamento feito pela Comissão Europeia, 89 por cento dos cidadãos da Europa acreditam que há um fosso crescente entre a opinião dos agentes políticos e a opinião do público. Apenas 18 por cento dos italianos e 15 por cento dos gregos acredita que o seu voto faz diferença. Basicamente, as pessoas começam a entender que eles podem mudar os governos, mas não podem mudar as políticas.
E a pergunta que eu quero fazer é a seguinte: como foi acontecer de nós estarmos vivendo em sociedades que são muito mais livres do que nunca - nós temos mais direitos, podemos viajar mais facilmente, temos acesso a mais informação - ao mesmo tempo em que a confiança nas nossas instituições democráticas entraram em colapso? Então, basicamente eu quero perguntar: o que deu certo e o que deu errado nestes 50 anos, quando se fala em democracia? E eu vou começar com o que deu certo.
E a primeira coisa que deu certo foi, naturalmente, essas cinco revoluções que, a meu ver, mudaram muito a forma como estamos vivendo e aprofundaram nossa experiência democrática. E a primeira foi a revolução cultural e social de 1968 e 1970, o que colocou o indivíduo no centro da política. Foi o momento dos direitos humanos. Basicamente, este foi também um grande surto, de uma cultura de dissidência, de uma cultura de não-conformismo, que nunca tinha sido vista. Eu acredito que cada uma destas coisas são filhas de 68 - ainda que a maioria de nós não tivesse então sequer nascido.
Depois você tem a revolução do mercado, em 1980. E mesmo que muitas pessoas de esquerda tentem odiá-la, a verdade é que foi principalmente a revolução do mercado que enviou a mensagem: “O governo não sabe o que é melhor”. E você tem sociedades determinadas por escolhas.
E, claro, você tem 1989 - o fim do comunismo, o fim da Guerra Fria. Foi o nascimento do mundo global. E você tem a Internet. Esta não é uma audiência a quem eu vá pregar até que ponto a Internet capacita as pessoas. Ela mudou a forma como estamos nos comunicando e basicamente como estamos vendo a política. A própria ideia de comunidade política mudou totalmente.
E eu vou citar mais uma revolução, e essa é a revolução das ciências do cérebro, que mudou totalmente a nossa forma de entender como as pessoas estão tomando decisões.
Então, isto é o que deu certo. Mas se nós vamos ver o que deu errado, vamos acabar chegando nas mesmas cinco revoluções. Porque primeiro você tem, nos anos 1960 e 1970, a revolução cultural e social, que de certa forma destruiu a ideia de um propósito coletivo. A própria ideia, todos estes substantivos coletivos que nos foram ensinados - nação, classe, família. Começamos a gostar de nos divorciar, se estamos casados. Tudo isso esteve sob forte ataque. E é bastante difícil envolver as pessoas na política quando eles acreditam que o que realmente importa é a sua posição pessoal.
E você tem a revolução de mercado dos anos 80 e o enorme aumento das desigualdades sociais. Lembre-se, até os anos 70 o fortalecimento da democracia estava sempre acompanhado do declínio da desigualdade. Quanto mais democráticas se tornavam nossas sociedades, mais igualitárias ficavam.
Agora, temos a tendência inversa. A expansão da democracia é muitas vezes acompanhada pelo aumento da desigualdade. Eu acho isso bastante perturbador quando falamos sobre o que está acontecendo de certo e errado com a democracia nos dias de hoje.
E se você vai para 1989 (algo que você não espera que ninguém vá criticar) muitos vão dizer: “Olha, foi o fim da Guerra Fria que rasgou o contrato social entre as elites e as pessoas na Europa Ocidental”. Quando a União Soviética ainda estava lá, os ricos e os poderosos precisavam do povo, porque eles o temiam. Agora as elites foram libertadas. Elas se movimentam muito. Você não consegue taxá-las. E, basicamente, elas não temem o povo. Então, como resultado disso, você tem essa situação muito estranha em que as elites saíram do controle dos eleitores. Não é por acaso que os eleitores não estão mais interessados em votar.
E quando falamos sobre a internet, sim, é verdade, a internet liga todos nós, mas também sabemos que a internet criou estas câmaras de eco e guetos políticos em que por toda a sua vida você pode ficar com a comunidade política a que pertence . E isso está tornando mais e mais difícil entender as pessoas que não são como você. Eu sei que muitas pessoas aqui falaram esplendidamente sobre o mundo digital e a possibilidade de cooperação, mas você tem visto o que o mundo digital tem feito com a política americana nos dias de hoje? Isto é também, em parte, um resultado da revolução da internet. Este é o outro lado das coisas que nós gostamos.
E quando você vai para ciências do cérebro, o que os consultores políticos aprenderam com os cientistas do cérebro é: não fale mais comigo sobre ideias, não me fale de políticas públicas. O que realmente importa é manipular as emoções das pessoas. E isso ocorre de maneira muito forte, tanto que, mesmo quando falamos de revoluções nestes dias, estas revoluções não são mais nomeadas em torno de ideologias ou ideias. Antes, as revoluções costumavam ter nomes ideológicos. Ela poderia ser comunista, liberal, ela poderia ser fascista ou islâmica. Agora, as revoluções são chamadas pelo nome da mídia que usa. Você tem revoluções Facebook, revoluções Twitter. O conteúdo não importa mais, a questão é a mídia.
Eu estou dizendo isso porque um dos meus principais argumentos é que o que deu certo é também o que deu errado. E agora que estamos tentando ver como podemos mudar a situação, quando basicamente estamos tentando ver o que pode ser feito sobre a democracia, devemos manter essa ambigüidade em mente. Porque, provavelmente, algumas das coisas que mais amamos serão também as coisas que mais podem nos ferir.
Nestes dias, é muito popular a ideia de que a transparência, uma combinação entre cidadãos ativos, novas tecnologias e mais legislação pró-transparência pode restaurar a confiança na política. Você acredita que quando tem essas novas tecnologias e as pessoas que estão prontas para usá-las, elas podem tornar muito mais difícil para os governos mentir, vai ser mais difícil para eles roubar e, provavelmente, vai ser ainda mais difícil para eles matar.
Isso provavelmente é verdade. Mas eu acredito que devemos ter também muito claro que, agora que colocamos a transparência no centro da política, a mensagem é que a transparência é estúpida.
Essa transparência não pretende restaurar a confiança nas instituições. Transparência é a gestão política da desconfiança. Estamos assumindo que nossas sociedades vão basear-se em desconfiança. E, pelo jeito, a desconfiança sempre foi muito importante para a democracia. É por isso que você tem freios e contrapesos. É por isso que, basicamente, você tem toda esta desconfiança criativa entre os representantes e os representados. Mas quando a política é só a gestão de desconfiança, então - e eu estou muito contente de que “1984” foi mencionado - agora nós vamos ter “1984” em sentido inverso. Não vai ser o Big Brother observando você. Nós seremos o Big Brother, observando a classe política.
Mas esta é a ideia de uma sociedade livre? Por exemplo, você pode imaginar que pessoas decentes, com espírito cívico, pessoas talentosas, vão se interessar por este ofício - a política - se eles realmente acreditam que ela é a gestão da desconfiança? Você não tem medo daquilo que todas essas tecnologias, que vão rastrear qualquer declaração dos políticos, vão fazer a respeito de certas questões? Você não tem medo de que isso vá ser um impulso muito forte para que os políticos reiterem suas posições, mesmo as posições muito erradas, porque a coerência vai ser mais importante do que o bom senso? E, aos os americanos que me escutam, vocês não tem medo de que seus presidentes vão governar com base no que disseram nas eleições primárias?
Acho isso extremamente importante, porque democracia depende de pessoas que podem mudar seus pontos de vista com base em argumentos e discussões racionais. E podemos perder isso com a ideia, muito nobre, de afirmar que as pessoas vão agir de forma responsável apenas por mostrarmos que nós não vamos tolerar o oportunismo na política. Então, para mim isso é extremamente importante. Eu acredito que, quando estamos discutindo a política nos dias de hoje, faz sentido olhar também para este tipo de história.
E não se esqueça: aquilo que ilumina também ofusca. Independentemente de quão transparentes nossos governos querem ser, eles vão ser seletivamente transparentes.
O governante de um pequeno país - que poderia ser o meu, mas poderia ser também o seu país, e esta é uma história real - determinou de que todas as decisões governamentais, todas as discussões do conselho de ministros, seriam publicadas na internet 24 horas após as discussões do conselho. E o público o apoiou inteiramente. Eu tive a oportunidade de conversar com o primeiro-ministro, perguntar por que ele tomou essa decisão. Ele disse: “Olha, esta é a melhor maneira de manter a boca dos meus ministros fechada. Porque vai ser muito difícil para eles discordarem de mim sabendo que em 24 horas a opinião deles será pública e pode se transformar numa crise política”.
Então, quando falamos de transparência, quando falamos em abertura, eu realmente acredito que o que devemos ter em mente é que o que deu certo é o mesmo que deu errado. E esta é do Goethe, que não é nem búlgaro nem cientista político, alguns séculos atrás ele disse: “Há uma grande sombra, onde há muita luz.”
Muito obrigado.
(Aplausos)
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Biografia:
http://www.ted.com/speakers/ivan_krastev.html
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Ivan Krastev: Can democracy exist without trust?
I’m afraid I’m one of those speakers you hope you’re not going to meet at TED. First, I don’t have a mobile, so I’m on the safe side. Secondly, a political theorist who’s going to talk about the crisis of democracy is probably not the most exciting topic you can think about. And plus, I’m not going to give you any answers. I’m much more trying to add to some of the questions we’re talking about. And one of the things that I want to question is this very popular hope these days that transparency and openness can restore the trust in democratic institutions.
There is one more reason for you to be suspicious about me. You people, the Church of TED, are a very optimistic community. Basically you believe in complexity, but not in ambiguity. As you have been told, I’m Bulgarian. And according to the surveys, we are marked the most pessimistic people in the world. The Economist magazine recently wrote an article covering one of the recent studies on happiness, and the title was “The Happy, the Unhappy and the Bulgarians.”
So now when you know what to expect, let’s give you the story. And this is a rainy election day in a small country – that can be my country, but could be also your country. And because of the rain until four o’clock in the afternoon, nobody went to the polling stations. But then the rain stopped, people went to vote. And when the votes had been counted, three-fourths of the people have voted with a blank ballot. The government and the opposition, they have been simply paralyzed. Because you know what to do about the protests. You know who to arrest, who to negotiate with. But what to do about people who are voting with a blank ballot? So the government decided to have the elections once again. And this time even a greater number, 83 percent of the people, voted with blank ballots. Basically they went to the ballot boxes to tell that they have nobody to vote for.
This is the opening of a beautiful novel by Jose Saramago called “Seeing.” But in my view it very well captures part of the problem that we have with democracy in Europe these days. On one level nobody’s questioning that democracy is the best form of government. Democracy is the only game in town. The problem is that many people start to believe that it is not a game worth playing.
For the last 30 years, political scientists have observed that there is a constant decline in electoral turnout, and the people who are least interested to vote are the people whom you expect are going to gain most out of voting. I mean the unemployed, the under-privileged. And this is a major issue. Because especially now with the economic crisis, you can see that the trust in politics, that the trust in democratic institutions, was really destroyed. According to the latest survey being done by the European Commission, 89 percent of the citizens of Europe believe that there is a growing gap between the opinion of the policy-makers and the opinion of the public. Only 18 percent of Italians and 15 percent of Greeks believe that their vote matters. Basically people start to understand that they can change governments, but they cannot change policies.
And the question which I want to ask is the following: How did it happen that we are living in societies which are much freer than ever before – we have more rights, we can travel easier, we have access to more information – at the same time that trust in our democratic institutions basically has collapsed? So basically I want to ask: What went right and what went wrong in these 50 years when we talk about democracy? And I’ll start with what went right.
And the first thing that went right was, of course, these five revolutions which, in my view, very much changed the way we’re living and deepened our democratic experience. And the first was the cultural and social revolution of 1968 and 1970s, which put the individual at the center of politics. It was the human rights moment. Basically this was also a major outbreak, a culture of dissent, a culture of basically non-conformism, which was not known before. So I do believe that even things like that are very much the children of ‘68 – nevertheless that most of us had been even not born then. But after that you have the market revolution of the 1980s. And nevertheless that many people on the left try to hate it, the truth is that it was very much the market revolution that sent the message: “The government does not know better.” And you have more choice-driven societies. And of course, you have 1989 – the end of Communism, the end of the Cold War. And it was the birth of the global world. And you have the Internet. And this is not the audience to which I’m going to preach to what extent the Internet empowered people. It has changed the way we are communicating and basically we are viewing politics. The very idea of political community totally has changed. And I’m going to name one more revolution, and this is the revolution in brain sciences, which totally changed the way we understand how people are making decisions.
So this is what went right. But if we’re going to see what went wrong, we’re going to end up with the same five revolutions. Because first you have the 1960s and 1970s, cultural and social revolution, which in a certain way destroyed the idea of a collective purpose. The very idea, all these collective nouns that we have been taught about – nation, class, family. We start to like divorcing, if we’re married at all. All this was very much under attack. And it is so difficult to engage people in politics when they believe that what really matters is where they personally stand.
And you have the market revolution of the 1980s and the huge increase of inequality in societies. Remember, until the 1970s, the spread of democracy has always been accompanied by the decline of inequality. The more democratic our societies have been, the more equal they have been becoming. Now we have the reverse tendency. The spread of democracy now is very much accompanied by the increase in inequality. And I find this very much disturbing when we’re talking about what’s going on right and wrong with democracy these days.
And if you go to 1989 – something that basically you don’t expect that anybody’s going to criticize – but many are going to tell you, “Listen, it was the end of the Cold War that tore the social contract between the elites and the people in Western Europe.” When the Soviet Union was still there, the rich and the powerful, they needed the people, because they feared them. Now the elites basically have been liberated. They’re very mobile. You cannot tax them. And basically they don’t fear the people. So as a result of it, you have this very strange situation in which the elites basically got out of the control of the voters. So this is not by accident that the voters are not interested to vote anymore.
And when we talk about the Internet, yes, it’s true, the Internet connected all of us, but we also know that the Internet created these echo chambers and political ghettos in which for all your life you can stay with the political community you belong to. And it’s becoming more and more difficult to understand the people who are not like you. I know that many people here have been splendidly speaking about the digital world and the possibility for cooperation, but [have you] seen what the digital world has done to American politics these days? This is also partly a result of the Internet revolution. This is the other side of the things that we like.
And when you go to the brain sciences, what political consultants learned from the brain scientists is don’t talk to me about ideas anymore, don’t talk to me about policy programs. What really matters is basically to manipulate the emotions of the people. And you have this very strongly to the extent that, even if you see when we talk about revolutions these days, these revolutions are not named anymore around ideologies or ideas. Before, revolutions used to have ideological names. They could be communist, they could be liberal, they could be fascist or Islamic. Now the revolutions are called under the medium which is most used. You have Facebook revolutions, Twitter revolutions. The content doesn’t matter anymore, the problem is the media.
I’m saying this because one of my major points is what went right is also what went wrong. And when we’re now trying to see how we can change the situation, when basically we’re trying to see what can be done about democracy, we should keep this ambiguity in mind. Because probably some of the things that we love most are going to be also the things that can hurt us most. These days it’s very popular to believe that this push for transparency, this kind of a combination between active citizens, new technologies and much more transparency-friendly legislation can restore trust in politics. You believe that when you have these new technologies and people who are ready to use this, it can make it much more difficult for the governments to lie, it’s going to be more difficult for them to steal and probably even going to be more difficult for them to kill. This is probably true. But I do believe that we should be also very clear that now when we put the transparency at the center of politics where the message is that transparency is stupid.
Transparency is not about restoring trust in institutions. Transparency is politics’ management of mistrust. We are assuming that our societies are going to be based on mistrust. And by the way, mistrust was always very important for democracy. This is why you have checks and balances. This is why basically you have all this creative mistrust between the representatives and those whom they represent. But when politics is only management of mistrust, then – I’m very glad that “1984” has been mentioned – now we’re going to have “1984” in reverse. It’s not going to be the Big Brother watching you, it’s going to be we being the Big Brother watching the political class.
But is this the idea of a free society? For example, can you imagine that decent, civic, talented people are going to run for office if they really do believe that politics is also about managing mistrust? Are you not afraid with all these technologies that are going to track down any statement the politicians are going to make on certain issues, are you not afraid that this is going to be a very strong signal to politicians to repeat their positions, even the very wrong positions, because consistency is going to be more important than common sense? And the Americans who are in the room, are you not afraid that your presidents are going to govern on the basis of what they said in the primary elections?
I find this extremely important, because democracy is about people changing their views based on rational arguments and discussions. And we can lose this with the very noble idea to keep people accountable for showing the people that we’re not going to tolerate politicians the opportunism in politics. So for me this is extremely important. And I do believe that when we’re discussing politics these days, probably it makes sense to look also at this type of a story.
But also don’t forget, any unveiling is also veiling. [Regardless of] how transparent our governments want to be, they’re going to be selectively transparent. In a small country that could be my country, but could be also your country, they took a decision – it is a real case story – that all of the governmental decisions, discussions of the council of ministers, were going to be published on the Internet 24 hours after the council discussions took place. And the public was extremely all for it. So I had the opportunity to talk to the prime minister, why he made this decision. He said, “Listen, this is the best way to keep the mouths of my ministers closed. Because it’s going to be very difficult for them to dissent knowing that 24 hours after this is going to be on the public space, and this is in a certain way going to be a political crisis.”
So when we talk about transparency, when we talk about openness, I really do believe that what we should keep in mind is that what went right is what went wrong. And this is Goethe, who is neither Bulgarian nor a political scientist, some centuries ago he said, “There is a big shadow where there is much light.”
Thank you very much.
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Atualizado em 07.04.13 Texto do presidente da Odebrecht sobre as críticas que a imprensa fez às viagens de Lula.
Um trecho:
“O tratamento que está sendo dado por muitos às viagens do ex-presidente Lula é míope e reforça entre nós uma cultura de desconfiança. Caminhar na construção de uma sociedade de confiança, fundada no respeito entre empresas, entre estas e o poder público e entre o poder público e a sociedade será muito bom para todos nós.”
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VIAJE MAIS, PRESIDENTE!
Por Marcelo Odebrecht
Da Folha
O tratamento dado por muitos às viagens de Lula reforça a desconfiança. Quero minhas filhas orgulhosas do que temos feito mundo afora
Minha tendência natural perante assuntos que despertam polêmicas, como as reportagens e os artigos publicados nas últimas semanas sobre viagens do ex-presidente Lula, é esperar a poeira baixar.
Dessa vez, resolvi agir de modo diferente porque entendo que está em jogo o interesse do Brasil e o legado que queremos deixar para as futuras gerações.
As matérias, em sua maioria em tom de denúncia, procuraram associar as viagens a propósitos escusos de empresas brasileiras que as patrocinaram, dentre elas a Odebrecht.
A Odebrecht foi, sim, uma das patrocinadoras da ida do ex-presidente Lula a alguns dos países citados. E o fizemos de modo transparente, por interesse legítimo e por reconhecer nele uma liderança incontestável, capaz de influenciar a favor do Brasil e, consequentemente, das empresas brasileiras onde quer que estejam.
O ex-presidente Lula tem feito o que presidentes e ex-presidentes dos grandes países do hemisfério Norte fazem, com naturalidade, quando apoiam suas empresas nacionais na busca de maior participação no comércio internacional. Ou não seria papel de nossos governantes vender minérios, bens e serviços que gerem riquezas para o país?
Nos últimos meses, o Brasil recebeu visitas de reis, presidentes e ministros, e todos trouxeram em suas comitivas empresários aos quais deram apoio na busca de negócios.
Ocorre que lá fora essas ações são tidas como corretas e até necessárias. Trazem ganhos econômicos legítimos para as empresas e seus países de origem e servem para a implementação da geopolítica de governos que têm visão de futuro, como o da China, por exemplo, que através de suas empresas, procuram, cada vez mais, ocupar espaços estratégicos além fronteiras.
Infelizmente, aqui o questionamento existe, talvez por desinformação. Permitam-me citar alguns números. A receita da Odebrecht com exportação e operações em outros países, no ano de 2012, foi de US$ 9,5 bilhões e nossa carteira de contratos de engenharia e construção no exterior soma US$ 22 bilhões.
Para atender a esses compromissos, mobilizamos 2.891 empresas brasileiras fornecedoras de bens e serviços. No conjunto, elas exportaram cerca de 60 mil itens. Dessas, 1.955 são pequenas empresas e, no total, geraram 286 mil empregos em nosso país. É uma enorme cadeia de empresas e pessoas que se beneficia de nossa atuação em outros países e, obviamente, se beneficia também do apoio governamental a essa atuação. Esse apoio se dá, dentre outras formas, com os financiamentos do BNDES para exportação que, no caso da Odebrecht, é bom que se frise, representam 18% da receita fora do Brasil.
Estamos em 22 países, na grande maioria deles há mais de 20 anos, e exportamos para outros 70. Como ex-presidente, Lula visitou sete, e esperamos que ele e outros governantes visitem muitos mais.
Esses números falam por si, mas decidi me manifestar também porque não quero que disso fiquem sentimentos de covardia ou culpa para as pessoas que trabalham em nossa organização.
Quero minhas filhas e os familiares de nossos integrantes de cabeça erguida, orgulhosos do que nós e outras empresas brasileiras temos feito mundo afora, construindo a Marca Brasil para além do samba e do futebol, ao mesmo tempo em que contribuímos para a prosperidade econômica e justiça social nos países e comunidades onde atuamos.
A inserção internacional nos tornou um país socialmente mais evoluído e comercialmente mais competitivo porque gerou divisas, criou empregos, permitiu trazer novas tecnologias e estimulou a inovação.
O tratamento que está sendo dado por muitos às viagens do ex-presidente Lula é míope e reforça entre nós uma cultura de desconfiança.
Caminhar na construção de uma sociedade de confiança, fundada no respeito entre empresas, entre estas e o poder público e entre o poder público e a sociedade será muito bom para todos nós.
MARCELO ODEBRECHT, 44, engenheiro civil, é presidente da Odebrecht S.A., empresa holding da Organização Odebrecht