por Jorge Furtado
em 21 de outubro de 2012
O Supremo Tribunal Federal aprovou o sistema de cotas nas universidades públicas por unanimidade, 10 votos a zero.
Há quem defenda e quem conteste as cotas, com argumentos aceitáveis, independentemente de sua posição política.
E há quem simplesmente classifique como vagabundos os alunos negros, deficientes ou egressos de escolas públicas que se utilizam do sistema de cotas.
Não se trata de pregar o politicamente correto, inimigo do humor, que precisa ser livre para se expressar, mesmo quando sem graça ou de mau gosto. Trata-se de respeitar a decisão da justiça e a constituição brasileira.
Racismo ou discriminação de deficientes físicos não tem graça nenhuma.
Segue o excelente texto de Elio Gaspari sobre o tema.
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Percentual de negros com diploma salta de 4% para 20%
Elio Gaspari, no jornal Folha de São Paulo de hoje:
A notícia pareceu uma simples estatística: entre 1997 e 2011, quintuplicou a percentagem de negros e pardos que cursam ou concluíram o curso superior, indo de 4% para 19,8%. Em números brutos, foram 12,8 milhões de jovens de 18 a 24 anos.
Isso aconteceu pela conjunção de duas iniciativas: restabelecimento do valor da moeda, ocorrido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, e as políticas de ação afirmativa desencadeadas por Lula.
Poucos países do mundo conseguiram resultado semelhante em tão pouco tempo. Para ter uma ideia do tamanho dessa conquista, em 2011 a percentagem de afrodescendentes matriculados em universidades americanas chegou a 13,8%, 3 milhões em números brutos. Isso depois de meio século de lutas e leis.
Em 1957, estudantes negros entraram na escola de Little Rock escoltados pela 101ª Divisão de Paraquedistas.
Pindorama ainda tem muito chão pela frente, pois seus negros e pardos formam 50,6% da sua população e nos Estados Unidos são 13%.
O percentual de 1997 retratava um Brasil que precisava mudar. O de 2011, uma sociedade que está mudando, para melhor. Por trás desse êxito estão políticas de cotas ou estímulos nas universidades públicas e no ProUni.
Em seis anos, o ProUni matriculou mais de 1 milhão jovens do andar de baixo, brancos, pardos, negros ou índios. Deles, 265 mil já se formaram. Novamente, convém ver o que esse número significa: em 1944, quando a sociedade americana não sabia o que fazer com milhões de soldados que combatiam na Europa e no Pacífico, o presidente Franklin Roosevelt criou a GI-Bill.
Ela dava a todos os soldados uma bolsa integral nas universidades que viessem a aceitá-los. Em cinco anos, a GI-Bill matriculou 2 milhões de jovens. Hoje entende-se que a iniciativa foi a base da nova classe média americana e há estudiosos que veem nela o programa de maior alcance social das reformas de Roosevelt.