por Jorge Furtado
em 23 de janeiro de 2013
ELE - Dizem que finjo ou minto tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto com a imaginação. Não uso o coração. Tudo o que sonho ou passo, o que me falha ou finda, é como que um terraço sobre outra coisa ainda. Essa coisa é que é linda. Por isso escrevo em meio, do que não está ao pé, livre do meu enleio, sério do que não é. Sentir, sinta quem lê!
Pausa.
ELA - Bom, muito. Excelente.
ELE - Obrigado, que bom que a senhora gostou.
ELA - Gostei, gostei bastante. Mas pode melhorar, claro.
ELE - Claro, claro.
ELA - Por exemplo… dizem.
Ele - O que é que tem?
ELA - Dizem… parece um pouco paranóico. Dizem, quem? Quem dizem? Melhor seria, algumas pessoas dizem. Algumas, não todas.
ELE - (ele anota) Algumas pessoas.
ELA - Isso, bem melhor. Minto, minto é agressivo, ofensivo, muito forte. Falto com a verdade, por exemplo, já é mais delicado, mais sutil.
ELE - Falto com a verdade.
ELA - Isso. O senhor está anotando?
ELE - Estou.
ELA - Tudo também é excessivo, muito radical. Melhor seria, por exemplo, a maioria das coisas que escrevo.
ELE - Certo.
ELA - Não, não. Não, este não… é péssimo. Não é peremptório, conclusivo, não é muito ruim. O melhor seria… discordo. Ou… não é bem assim. Ou ainda, melhor: será?
ELE - Em vez de não, será.
ELA - Isso. Como é que ficou, até agora?
ELE - (lendo) Algumas pessoas dizem que finjo ou falto com a verdade na maioria das coisas que escrevo. Será?
ELA - Bem, estamos indo bem.