Missões

por Giba Assis Brasil
em 17 de maio de 2013

Em 1978, o polonês Karol Wojtyla tornou-se o primeiro papa nascido no leste europeu e, com o nome de João Paulo II, gerou grandes expectativas de vir a ser um pontífice com preocupações sociais. Um pouco como o seu antecessor João Paulo I (Albino Luciani), que só tinha ficado 33 dias no comando do Vaticano. Porém, na metade dos anos 1980, depois de muitas viagens (inclusive ao Brasil), Wojtyla já tinha mostrado o seu lado conservador, afinado com os tempos de Reagan, Thatcher e da queda das economias do “socialismo real”.

Em 1985, o grande sucesso de Hollywood foi “First blood, part II”. No primeiro filme, três anos antes, o personagem Rambo (Sylvester Stallone) era um veterano da Guerra do Vietname que, voltando aos EUA e incapaz de se readaptar à vida civil, terminava se tornando uma máquina de matar voltada contra a própria sociedade norte-americana. No filme sequência, pelo contrário, Rambo é chamado de volta ao Vietname e se transforma num heroi do exército ianque ao matar algumas centenas de comunistas asiáticos, numa espécie de revanche da guerra perdida. No Brasil, o primeiro filme tinha se chamado apenas “Rambo”, e o segundo ganhou o título de “Rambo II, a missão”.

O jornal de humor “O planeta diário”, que tinha sido lançado no final de 1984 por Hubert, Reinaldo e Cláudio Paiva, juntou estas duas linhas de referências no meio de uma notícia (falsa, como todas as que ele publicava) sobre o papa, referindo-se a ele como:

“João Paulo II, o missão”.

Explicar um texto humorístico é sempre uma tarefa ingrata. Contextualizar uma piada de quase 30 anos parece ainda mais complicado. Mas acho que dá pra perceber que mesmo um trocadilho pode ter um triplo sentido.

(Já um mau trocadilho não passa de um fotoxópi mal feito.)


TEM MAIS

Artigo do historiador Rodrigo Candido da Silva sobre “Os filmes Rambo na era Reagan e a emergência da nova Guerra Fria” (2009)

Antologia de O Planeta Diário (1984-1992) no Google Books

Entrevista com o teólogo Leonardo Boff sobre “João Paulo II e questões atuais” (2005)