por Jorge Furtado
em 23 de maio de 2014
Escrevi no meu blog um artigo sobre a qualidade do jornalismo brasileiro e sobre os desmandos de Joaquim Barbosa na presidência do STF. Num trecho deste artigo, declarei minha tristeza por ouvir, ler e ver na mídia várias declarações de artistas que diziam achar que o Brasil está cada vez pior, eu discordo, acho que o Brasil não parou de melhorar desde a volta da democracia, há 25 anos. Não citei o nome de ninguém e só coloquei aspas em declarações que ouvi pessoalmente ou que foram dadas por escrito. Conheço bem a prática da imprensa de inventar aspas para esquentar matérias, acabo de fazer um filme sobre isso. (www.omercadodenoticias.com.br)
Não deixa de ser irônico que, de um artigo em que questiono o autoritarismo e a qualidade do jornalismo, jornalistas tenham extraído um trecho, autoritariamente, sem minha autorização ou consulta, e publicado em vários sites como se fosse uma resposta ao Wagner Moura. A crítica precisa que o Wagner fez ao conservadorismo brasileiro em entrevista ao Estadão foi distorcida para servir aos propósitos deste mesmo conservadorismo. E a minha crítica à qualidade da imprensa e ao autoritarismo desaparece, transformada numa resposta ao Wagner.
http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/ainda-há-jornalistas-em-são-paulo
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Não leio comentários de ninguém, em lugar algum, se não forem assinados pelo autor, com nome e sobrenome, e publicados ou pelo próprio autor, em páginas pessoais, ou por um editor da página (jornal, revista), um ser humano também identificado, que leu o comentário antes de publicá-lo e o considerou publicável.
Uso muito a internet, para tudo, e me recuso a perder tempo lendo comentários anônimos onde quer que estejam, comentários publicados automaticamente, sem que ninguém, a não ser o próprio autor - se é que ele existe e é um ser humano - os tenha lido. Há muita coisa de qualidade na internet, muito mais do que as horas que temos para ler, ver e ouvir, não dá para perder tempo com besteiras e xingamentos. A leitura dos comentários automáticos publicados nas infindáveis páginas dos jornais, revistas, portais, sites, blog e tais, faz mal para a saúde.
Sobre este “veneno digital”, o poder tóxico - para o fígado e também para a democracia - dos comentários anônimos na internet, recomendo a leitura do artigo do jornalista inglês Robert Fisk. Num trecho, Fisk conta que reclamava, a um amigo, dos e-mails ameaçadores que recebeu a respeito de uma reportagem sobre o Oriente Médio:
“É por causa do seu perfil”, o amigo me disse. Então é isso que eu mereço? Eu sempre disse que se você é repórter do Oriente Médio, você tem que encarar os gravetos e as pedras. Às vezes, literalmente. Mas algo está errado aqui. Certamente não é para isso que a internet serve? Em todo o mundo agora, o anonimato - a ruína de todo o Editor de jornal - é aceito por cyber-jornalismo, o mais odioso. (…) O ex-diplomata dos EUA, Christopher Hill, um homem cujas opiniões normalmente me fazem estremecer - ele foi embaixador no Iraque e no Kosovo - observou esses perigos. “O acesso instantâneo à informação não significa acesso imediato ao conhecimento, muito menos à sabedoria”, escreveu ele recentemente. “No passado, a informação foi integrada com a experiência. Hoje, ela é integrada com a emoção… A tecnologia digital tem desempenhado um papel importante na promoção dessa atmosfera de maus modos, viciosos ataques pessoais, intolerância, desrespeito…”.
http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Comentarios-anonimos-atitudes-covardes-e-tempo-de-pararmos-de-beber-este-veneno-digital/6/27213
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A palavra inglesa troll, no sentido de alguém que entra numa conversa qualquer para provocar - trolar, trolagem - vem da pesca, troll é “lançar uma isca”, “trolling for suckers”, lançar uma isca para os trouxas. O inglês é muito rico em verbos, eles tem verbo para tudo.
(Tese: talvez por isso tenham dominado o mundo, são homens de ação, piratas ferozes e bons dramaturgos, drama é ação, não esqueça. Será que é por isso que escrevem tão bons roteiros? Desenvolver.)
Nós, filhos da última flor do Lácio, inculta e bela, ai que sono, não temos nada como “iscar”, mas nos sobram adjetivos e substantivos para se referir a alguém que só entra na conversa para sacanear, provocar, encher o saco, com argumentos bobos, alguém que faz qualquer negócio para aparecer, se preciso mente, grita, você pode escolher: babaca, trouxa, pé-no-saco, besta, pentelho, chato, grosso, estúpido, vai dizendo.
Troll também é, diz a wikipedia, uma criatura antropomórfica imaginária do folclore escandinavo. (…) Geralmente os trolls são descritos como criaturas humanoides, nada inteligentes mas muito trabalhadoras. Vivem em bando e são muito agressivos. Alguns são mais estranhos e raros, como os trolls do subterrâneo, que seriam menos inteligentes do que seus primos, porém mais fortes. Embora não considerados inteligentes, eram temidos, pois acreditava-se que dominavam a arte da ilusão e eram capazes de mudar de forma e de comer vorazmente tudo o que se lhes deparasse.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Troll_(internet)
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Acho que uma boa tradução para troll é trolha.
Trolha, na acepção mais antiga, é substantivo feminino, um utensílio de pedreiro para espalhar argamassa, ou para o revestimento de gesso, uma pequena pá achatada e de formato triangular. Pelo uso, passou também a substantivo masculino, designando o servente de pedreiro que a usa. (“O trolha se atrasou hoje, perdeu o trem”. )
Trolha, na gíria corrente brasileira, conforme registro no Dicionário Informal (http://www.dicionarioinformal.com.br/trolha/) é “algo, de preferência cilíndrico, utilizado para um único e específico fim: ser enfiado no c* de alguém.”
Triangular ou cilíndrica, em Porto Alegre, provavelmente nos anos setenta do século passado, a palavra “trolha” passou a designar um chato. O uso está registrado no Dicionário de Porto-Alegrês de Luis Augusto Fischer: “qualquer coisa incômoda, ruim, bagulhenta. Também se diz de pessoas desagradáveis, entediantes, chatas”.
Talvez o uso que os gaúchos fazem da trolha tenha origens não psicanalíticas, mas sim puramente sonoras, por semelhança com “troglodita” (“troglo”) ou “bolha” (também um chato), um “trolha” pode ser alguém tri-bolha, talvez “trolha” seja uma mistura de troglodita e bolha, vá saber?
Seja qual for a origem da palavra, não há dúvidas de que o troll é um trolha.
Na luta para garantir uma internet melhor para as futuras gerações, estou lançando a campanha “Troll free - Sem trolhas. Pelo ar puro na rede”.
Ganha direito a usar este belo selo, criado pelo Edu Oliveira, as páginas (sites e tais) que se comprometam a seguir três regras e duas recomendações:
Troll Free - Sem Trolhas: pelo ar puro na rede!
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