O golpe e o nível de confiança de sempre.

por Jorge Furtado
em 12 de outubro de 2014

Voto na Dilma pelos motivos de sempre, os mesmos que me levaram a votar no Lula: por quem governe mais para os pobres e menos para os ricos. Aécio, a direita e sua turma, como provaram no governo que fizeram e pelos planos e aliados que tem, são o contrário disso.

Como o previsto, e repetindo o roteiro das campanhas eleitorais de 2002, 2006 e 2010, denúncias gravíssimas de última hora, surgidas de fontes “absolutamente inquestionáveis” (ladrões confessos de dinheiro público), ocupam todo o espaço que deveria ser usado para debater planos e comparar desempenhos de governo. A palavra de corruptos e corruptores, que tentam tirar o deles da reta depois de terem sido apanhados pela Polícia Federal no governo que agora denunciam, ocupa todas as capas.

O nível de confiança das informações que chegam às manchetes é ainda mais baixo que o das pesquisas eleitorais: tudo sabemos segundo vazamento a conta gotas de declarações de bandidos, declarações supostamente guardadas por segredo de justiça porque ainda não foram comprovadas e sua divulgação prejudica a investigação e contribui para a futura anulação de provas e para a impunidade dos culpados, como sempre.

A politização, com fins evidentemente eleitorais, das investigações policiais e do judiciário, justifica que Dilma Rousseff e Tarso Genro falem de uma tentativa de golpe nas vésperas da eleição. O roteiro do show dos vazamentos, a articulação entre polícia e ladrões em sintonia com a imprensa, tudo isso sincronizado com o calendário eleitoral, é preocupante. Um juiz nega à sociedade - e à Presidência da República, ao Congresso Nacional, aos acusados - a possibilidade de conhecer o conteúdo integral do depoimento dos bandidos que a Polícia Federal capturou e que ele está julgando. Enquanto isso, trechos selecionados dos depoimentos destes bandidos são cirurgicamente divulgados, seguindo o calendário eleitoral, e as supostas informações que supostamente contem, sem qualquer prova apresentada, são tratadas, por jornalistas fiéis aos interesses dos seus patrões, como escrituras sagradas: só tiram o nome das empreiteiras e do PSB e mandam publicar, na capa. (1)

Há 50 anos a direita, unanimemente apoiada pela imprensa, batia panela nas ruas contra o esquerdismo, a corrupção e os desmandos de um governo popular, um governo que prometia governar para os mais pobres, garantir direitos dos trabalhadores e se contrapor aos grandes interesses americanos no país. Muita gente boa, talvez na melhor das intenções, apoiou o golpe que deu fim ao governo de João Goulart, só se arrependeu quando era tarde.

Hoje, a mesma direita, unanimemente apoiada pela imprensa, bate panela no facebook contra o esquerdismo, a corrupção e os descalabros de um governo popular, um governo que promete continuar governando para os mais pobres, garantindo direitos dos trabalhadores e se contrapondo aos grandes interesses americanos no país.

Felizmente a democracia tirou do cenário político os tanques e os uniformes, o poder deve ser conquistado no voto, legitimamente. E sei que muita gente boa, na melhor das intenções, quer o fim do governo do PT, e eles tem lá os seus motivos. Torço para que, até a hora da eleição, pensem bem naquilo que esperam colocar no lugar daquilo que querem tirar. E que não se arrependam do seu voto.

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Juscelino, Lula e Dilma.

Na história da democracia brasileira apenas Lula, Dilma e Juscelino governaram o país pelo período para o qual foram eleitos.

Fernando Henrique foi eleito para governar por 5 anos e governou 8, seu governo mudou a regra em benefício próprio.

Itamar era vice e pegou o mandato pelo meio.

Collor não terminou o seu governo, foi deposto pelo Congresso Nacional.

Sarney não foi eleito diretamente, e era vice.

Tancredo nem tomou posse.

Os militares não foram eleitos, deram um golpe armado.

Jango não terminou seu governo.

(Antes e depois de Jango o Brasil foi governado, por alguns dias, pelo presidente da câmara, o deputado do PSD paulista Rainieri Mazzilli. )

Jânio foi eleito para governar por 5 anos mas, empolgado com sua própria capacidade teatral, resolveu tentar um mergulho do palco sobre a plateia, imaginando ser amparado pela multidão, que o aplaudia. O pessoal abriu a roda e Jânio deu de nariz no chão, abrindo caminho para a ditadura militar.

Juscelino foi eleito em 55, governou de janeiro de 1956 até janeiro de 1961, cinco anos, foi eleito para isso e não havia reeleição. Sua candidatura quase foi inviabilizada, dizia-se que seu nome estava numa carta dos militares que o acusavam de comunista, mas não era verdade, o nome dele não era citado, como se soube quando Café Filho leu a carta inteira, na Voz do Brasil. (2)

Entre Juscelino e Getúlio, o Brasil teve três presidentes interinos em três anos, Café Filho, (1954), Carlos Luz (1955) e Nereu Ramos (1956).

Getúlio foi eleito em 1950 mas não terminou o seu mandato, todos sabem o que houve: graves denúncias de corrupção, nunca inteiramente comprovadas, e uma crise institucional amplificada pela imprensa - quase unânime de oposição explícita ao governo - levou Getúlio ao suicídio, adiando por 10 anos o golpe que a direita e a UDN, com o apoio dos americanos, pretendia dar no país.

O Marechal Eurico Gaspar Dutra foi eleito em 1945 para governar por seis anos, mas a constituinte reduziu o mandato presidencial para 5 anos.

Em 1945 o jurista cearense José Linhares, Presidente do STF, assumiu a Presidência da República por 3 meses, quando Getúlio foi deposto pelos militares.

Getúlio foi presidente de 1930 a 1945, mas não foi eleito.

Antes disso o voto não era secreto, não tínhamos exatamente o que hoje chamamos de democracia, a oligarquia brasileira governava o país em rodízio.

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Os corruptores

Se forem verdadeiras as afirmações dos delatores da roubalheira na Petrobras será impossível que os proprietários das construtoras Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Odebrecht, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior, entre outras, declarem que não sabiam de nada, ninguém tira mais de 20 milhões do caixa de uma empresa, para pagar suborno, sem o dono ficar sabendo. (3)

Que tal um projeto de “empresa ficha-limpa”? Os candidatos Dilma e Aécio poderiam prometer que, se eleitos, proibiriam que trabalhassem para o governo qualquer construtora que a justiça provar ter pago suborno a funcionários públicos.

Dilma, em cujo governo a suposta roubalheira na Petrobras foi estancada, propõe criminalizar o caixa 2 e defende o fim da doação de empresas para as campanhas, que só não foi aprovada ainda porque Gilmar Mendes pediu vistas e, parece, perdeu os óculos. Aécio apoia a proposta de criminalizar o caixa 2? Aécio apoia o fim do financiamento de empresas para as campanhas políticas?

Enquanto a campanha na mídia se ocupa com trechos selecionados das conversas de bandidos, os brasileiros que agora tem luz elétrica e antes não tinham, os que tem emprego e antes não tinham, os que entram na universidade e antes não entravam, são chamados de “desinformados”. A direita espera que os brasileiros acreditem mais nas manchetes produzidas por ladrões do que em sua vida real.

FHC diz que “o PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres”. (4) O PT, me parece, está onde sempre esteve, ao lado dos mais pobres. Muitos mal informados leem jornais, até porque alguns escrevem neles. Lembro que Dilma ganhou a eleição no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Minas, na Bahia e na maioria dos estados brasileiros. Nós, gaúchos, cariocas, mineiros, baianos e outros brasileiros de muitos estados, esperamos que Fernando Henrique defina melhor aquilo que chama de “grotões”.

A direita, mais uma vez, esconde seus planos de governo com denúncias de corrupção, que podem se provar verdadeiras ou não, isso veremos. Enquanto isso, a direita promete medidas “impopulares” aos seus apoiadores da elite, promete vantagens aos patrões e facilidades para o mercado, promete petróleo brasileiro para as petroleiras americanas e todo poder aos bancos na política econômica, e chama de desinformados os que lembram do longo tempo em que governaram, em época recente, quando a Polícia Federal não investigava, CPI não existia, Procurador engavetava e a imprensa aplaudia. Isso com desemprego em 12%, desigualdade social petrificada, empresas brasileiras dadas de presente, racionamento de energia, salários baixos e juros no espaço. O ministro da fazenda deste governo tucano era Armínio Fraga. Quem não tem boa memória, favor usar o Google antes de acreditar nesta tal de “nova política”.

Os empregados, os correntistas dos bancos, as donas de casa, os trabalhadores, o pessoal que não está acompanhando a montanha russa do valor das ações da Petrobras mas sabe bem o preço de um litro de gasolina, os estudantes que antes não tinham onde estudar, os moradores que antes não tinham onde morar, hão de querer saber de Aécio, com o tempo de sobra que ele tem para explicar na tevê, quais os seus planos para o pré-sal e a Petrobras, para manter os níveis de emprego e renda no país, para o papel dos bancos públicos, e quais as medidas “impopulares” vai tomar em seu possível governo.

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Marina, o PSB e o PV, todos para a direita.

Marina decidiu apoiar a direita. Pela campanha reacionária que fez, surpresa alguma.

O PSB, que decidiu rasgar sua história de 67 anos e apoiar a direita, vai disputar espaço com o PSDB, não mais com o PT, que ficou sozinho na esquerda, com a simpática companhia do PSOL de Luciana Genro. Os partidos que um dia foram de esquerda e se moveram para a direita, como o PDT e o PPS, tornaram-se insignificantes. (5)

Até o Eduardo Jorge resolveu que o negócio é chamar os profissionais, deixem o mercado mandar que vai ser bom para todo mundo. Sugiro ao verde Eduardo o documentário “Inside job”, para ver o que essa ideia da direita que ele agora abraça - todo poder ao mercado - causou recentemente ao mundo, na Finlândia, na Grécia, na Espanha e nos Estados Unidos.

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As pesquisas do Ibope sempre vêm acompanhadas desta afirmação: “A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, o que quer dizer que, se levarmos em conta a margem de erro, a probabilidade de acerto é de 95%.”

Nunca entendi de onde vem este número, o tal nível de confiança da pesquisa. Digamos que uma oscilação de 2 pra cima ou para baixo soma 4, arredonda para 5, desconta de 100, dá 95 por cento de confiança, é isso? Se for, porque não 96 por cento de confiança? Pareceria ainda mais preciso e científico e, já que as urnas provaram que não significam coisa alguma, tanto faz.

Qual foi, depois de contados os votos, o nível de confiança demonstrado pelas pesquisas? No Tocantins, o Ibope de sábado, véspera da eleição, dava a vitória de Katia Abreu para o senado sobre Eduardo Gomes por 25 pontos. Ela ganhou, por 0,87. Neste caso, o erro do Ibope foi de 24,13, para mais ou para menos, o que nos dá 48,26. Arredonda para 50 e chegamos a conclusão que o “nível de confiança” da pesquisa Ibope no Tocantins, até a véspera da eleição, era igual ao do cara ou coroa. (6)

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Fontes e referências:

(1) “Há uma sincronia entre as investigações das irregularidades na Petrobrás e a eleição presidencial em curso, que lembra a sintonia entre o julgamento dos réus do mensalão pelo STF e as eleições municipais de 2012. O acordo de delação premiada com Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef foi firmado antes do primeiro turno mas os depoimentos foram programados para acontecerem logo depois. O Juiz e os procuradores que o conduzem sabem o que estão fazendo.
http://terezacruvinel.com/2014/10/10/utilidade-eleitoral-da-delacao-premiada/

(2) “Foi difícil o lançamento da candidatura de Juscelino, pois se acreditava em um veto militar a ela: JK era acusado de ser apoiado pelos comunistas. Somente quando o presidente da república Café Filho divulgou a carta dos militares na Voz do Brasil foi que Juscelino se lançou candidato, alegando que a carta dos militares não citava o seu nome”.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juscelino_Kubitschek

(3) Sobre as empresas que supostamente pagaram suborno, na Folha.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/10/1529797-doleiro-diz-que-corrupcao-na-petrobras-atingiu-alto-escalao.shtml

(4) FHC e os grotões.
/eleicoes.uol.com.br/2014/noticias/2014/10/06/fhc-pt-cresceu-nos-grotoes-porque-tem-voto-dos-pobres-menos-informados.htm

(5) Carta de Roberto Amaral, presidente do PSB.
http://jornalggn.com.br/blog/benjamin-albagli-neto/mensagem-aos-militantes-do-psb-e-ao-povo-brasileiro-por-roberto-amaral

(6) O nível de confiança das pesquisa.
http://g1.globo.com/to/tocantins/eleicoes/2014/noticia/2014/10/katia-abreu-tem-44-eduardo-gomes-25-aponta-ibope-ao-senado.html