por Giba Assis Brasil
em 19 de janeiro de 2016
Porto Alegre, 09 de abril de 1996
Caro Sr. Scola:
Meu nome é Giba Assis Brasil. Sou um cineasta brasileiro e pertenço, junto com mais cinco colegas, a uma cooperativa de produção, distribuição e discussão de cinema chamada Casa de Cinema de Porto Alegre. Os filmes de curta metragem que realizamos já foram premiados em Berlim, Havana, Clermont-Ferrand, Huelva. Alguns deles foram exibidos em várias TVs européias (inclusive a RAI-1) e em 1992 fizeram parte de uma mostra de cinema brasileiro organizada pela cinemateca de Bolonha.
Porto Alegre, nossa cidade, fica no extremo sul do Brasil, possui 1,5 milhão de habitantes e é administrada há oito anos pelo maior partido de esquerda da América Latina, o PT (Partido dos Trabalhadores). Nas eleições presidenciais de 1994, Porto Alegre foi a única grande cidade onde Lula, o candidato do PT, venceu. Em outubro deste ano haverá eleições municipais, e o PT provavelmente voltará a vencer em Porto Alegre.
Não por acaso, teus filmes sempre foram muito bem recebidos aqui. Em 1977, “C’eravamo tanto amati” foi mal exibido no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas teve tanto público em Porto Alegre que voltou a ser lançado no centro do país, tornando-se um grande sucesso nacional. Também “Una Giornata particolare”, “Brutti, sporchi e cattivi”, “Un Mundo nuovo”, “La Famiglia”, “Il Viaggio di Capitan Fracassa” e mais recentemente “Mario, Maria e Mario” tiveram em Porto Alegre um público proporcionalmente maior e certamente mais entusiasmado que no resto do país.
Em resumo: se há muitos motivos para admirar a obra de Ettore Scola no Brasil, mais ainda haverá em Porto Alegre. Para nós, da Casa de Cinema, teus filmes não são apenas um modelo do cinema que queremos fazer: sem exagero, são parte fundamental de nossa visão de mundo.
Este ano, como conseqüência das comemorações dos 100 anos do cinematógrafo Lumière, a Prefeitura de Porto Alegre encomendou à Casa de Cinema a produção de um Fórum Internacional sobre o futuro do cinema. Queremos discutir as possibilidades, nos próximos 100 anos, de uma produção audiovisual humanista e não dominada pelo mercado. Estamos organizando o evento e contatando alguns teóricos europeus e produtores independentes norte-americanos. Mesmo prevendo dificuldades em sua agenda, não poderíamos deixar de convidá-lo a participar.
O Fórum acontecerá no próximo dia 5 de junho em Porto Alegre. Além da passagem e estadia, a Prefeitura oferece um cachê de US$ 1000 pela participação. Caso haja possibilidade e interesse de sua parte, voltaremos a entrar em contato para maiores detalhes.
Realmente, gostaríamos muito de poder contar com sua presença em nosso Fórum e em nossa cidade.
Auditório da Assembleia Legislativa, Porto Alegre, 27 de julho de 1996. A foto foi batida por Maria do Rosário Caetano, que também deve estar com saudade.