por Giba Assis Brasil
em 11 de abril de 2016
(mensagem para Maria do Rosário Caetano 11/04/2006)
Acho impossível pensar na viabilidade de um projeto sem saber quem é que vai executá-lo. Se é pra selecionar o “melhor roteiro”, então o prêmio deve ser a publicação, nunca uma quantia enorme de dinheiro público para a produção. Não existe filme sem produção, não existe projeto que não esteja de alguma forma ligado à biografia dos seus realizadores e também não existe realizador, por mais iniciante que seja, que não tenha biografia.
No caso de editais de documentários, então, chega a ser demência achar que é possível fazer uma seleção justa sem conhecer os proponentes. Imagina se aparecesse um projeto como “O Fim e o princípio” num edital destes, sem a assinatura do Eduardo Coutinho. Imagina se o Coutinho se dispusesse a fazer um filme de ficção científica. Ou o Glauber querendo fazer uma comédia.
O mais injusto é o seguinte: estando no meio, com as informações que eu recebo de toda parte o dia inteiro, eu tenho certeza que sempre vou poder identificar de 20 a 40% dos projetos. Ou seja, o anonimato é injusto porque nunca é para todos.
E o problema que está por trás é insolúvel. Todo mundo que defende o anonimato, no fim das contas, saca o argumento definitivo de que “o anonimato impede ou ao menos dificulta que os membros de júri desonestos favoreçam os seus amigos”. Ridículo. Os desonestos sempre vão encontrar um jeito de fazer alguma sacanagem. Por que não fazer o contrário: partir do princípio de que os membros do júri são honestos? Aliás, se não forem, por que convidá-los?
Eu me recuso a participar de editais com anonimato porque, no fundo, sinto que estão me dizendo: você é desonesto (ou talvez você seja desonesto), mas com esse regulamento nós estamos garantindo que o resultado vai ser legal.
Eu fora.