por Giba Assis Brasil
em 15 de abril de 2016
(mensagem para Fabiano de Souza, 15/04/2016)
-- Exibi “O dia em que Dorival encarou a guarda” em aula e acabou rolando uma coisa interessantíssima: metade da aula disse que o clímax do filme acontece quando Dorival leva aquela surra, com todas as inserções aglutinadas; metade da turma afirmou que aquela opinião levava em conta manuais de roteiro, mas não a “verdade”: o clímax para o espectador acontece quando Dorival toma banho. Um três alunos berraram: o Dorival tem dois “clímaxes”! Resolvi te escrever para relatar e ao mesmo tempo saber a tua opinião: onde está o clímax do Dorival? // Fabiano de Souza
Acho que o problema não é de opinião, mas de aplicação de conceitos. A discussão não tem nada a ver com seguir ou não seguir “manuais de roteiro”, mas sim com definir com que conceitos se está trabalhando: afinal, vocês estavam discutindo clímax ou resolução?
Conferindo no “Dicionário de teatro” do Luiz Paulo Vasconcellos (que está bem longe de ser um manual de roteiro):
“CLÍMAX: (…) o acontecimento que vem modificar uma situação dramática em decorrência de a tensão entre os antagonistas ter atingido seu ponto máximo.”
“RESOLUÇÃO: (…) a parte da peça em que o impasse provocado pelo confronto das forças em oposição é solucionado. A resolução envolve o CLÍMAX (…) e corresponde, na sua maior parte, a uma AÇÃO DESCENDENTE.”
Em alguma narrativas, o clímax e a resolução coincidem. Outras, raras, terminam no clímax, sem resolver nada. Em outras ainda, clímax e resolução estão afastados demais, ou a resolução pós-clímax é muito longa, portanto anticlimática. Tem ainda outras que colocam a resolução antes do clímax, normalmente com resultados muito ruins. E, claro, tem muitas narrativas que não têm clímax, e muito menos resolução - e algumas delas são ótimas.
Não é o caso do “Dorival”. Nossa intenção foi bem óbvia: construir um clímax forte (a briga) e uma resolução rápida (o banho); se a catarse acontece na resolução (e acho que foi isso que o pessoal quis dizer com “o clímax para o espectador”) é porque o filme funcionou, apesar de todos os erros de filmagem e de edição de som - ou talvez exatamente por isso: a briga é tão mal feita que contrasta com a cena final.
Mas não se trata de outro clímax, e sim de outro conceito: em termos dramáticos, a cena do banho não é um clímax, e sim uma resolução - seria um clímax psicológico? emocional? Não sei.