Pesquisas

(enviado para a Lista PT em 15/09/1998, vinte anos atrás)

Quando estourou o escândalo Watergate, uma das muitas tramóias de Richard Nixon que foram divulgadas foi o esquema que ele tinha com o Gallup, então maior instituto de pesquisa e opinião do mundo.

As pesquisas pré-eleitorais do Gallup eram científicas, baseadas em amostragens criteriosamente selecionadas e sorteadas com uma certa antecedência. O instituto era idôneo, não fazia pesquisas em favor de nenhum candidato, apenas buscava “encontrar a verdade”.

No entanto, um funcionário nunca identificado do Instituto tinha um esquema com a assessoria do Nixon: passava pra eles, com antecedência de 48 horas, os nomes das cidades que tinham sido sorteadas para a realização das entrevistas.

O que a assessoria fazia? Comprava votos? Subornava os pesquisadores? Falsificava as planilhas de entrevista? Não. Muito mais sutis, eles apenas se deslocavam imediatamente para as cidades sorteadas e faziam dois dias de propaganda intensiva naqueles locais. Com um investimento relativamente pequeno, viciavam a amostra, obtinham resultados artificialmente altos e terminavam influenciando a opinião do país inteiro, usando para isso inclusive a credibilidade já comprovada do Instituto Gallup.

Quem for capaz de jurar que os institutos brasileiros estão imunes a esse tipo de “pequena” corrupção, que atire a primeira pedra.

É verdade, está mais que comprovado que as pesquisas eleitorais, no final, acertam muito mais do que erram. Pra nós, de esquerda, é difícil admitir isso: nosso conceito de “homem livre” não casa muito bem com a idéia de que uma pequena amostra pode determinar o comportamento da totalidade.

Mas a questão é outra: até que ponto as pesquisas, em vez de refletir o comportamento do eleitorado, não passam a determiná-lo? Que tipo de democracia é possível quando o embate político se limita a uma contabilidade de pontos percentuais?

Eu de minha parte, já fui pesquisado algumas vezes. Mas nunca respondi qual era o meu candidato. Minha resposta sempre tem sido: “Eu não respondo pesquisas. Considero que os institutos privados de pesquisa não têm o direito de saber a minha opinião e estendê-la para outras pessoas. Minha opinião é única; não é, portanto, pesquisável. Procure outro trouxa.”

A essa altura, é claro que o pobre pesquisador já tem certeza que está entrevistando um débil mental. E talvez ele tenha razão.