O silêncio e a culpa

por Giba Assis Brasil
15/04/2019

A professora Flávia Seligman, minha colega no Curso de Realização Audiovisual da Unisinos, exibiu semana passada, para os alunos do segundo ano, o curta BARBOSA, que nós filmamos em 1988. O filme é uma adaptação de um conto do Paulo Perdigão, e conta a história de um personagem sem nome (Antônio Fagundes) que viaja no tempo para tentar mudar o resultado da final da Copa de 1950, em que o Brasil perdeu pro Uruguai por 2x1 no Maracanã lotado. Desculpem o spoiler, mas ele não consegue. No debate, os alunos ficaram em dúvida se o personagem termina preso no passado ou não. E ela pediu que eu ajudasse a esclarecer.

Acho que, como corroteirista, não sou a melhor pessoa pra tentar interpretar o filme - pior que eu, só os diretores (Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo). Em todo caso, posso tentar.

Quando o personagem embarca na “máquina do tempo”, ele não fala nada sobre voltar. No final, ele aparece nas imagens em preto e branco, com os jogadores da seleção passando por ele, e em seguida dentro da tv (em 1950), que continua ligada na sala vazia (de 1988) onde permanece, silenciosa, a máquina que o levou ao passado. Pra mim, isso é um índice de que ele ficou perdido em 1950. Mas também pode ser que ele esteja “dando um tempo”, esperando passar a ressaca de ter perdido a Copa de novo, pra só depois embarcar na máquina de volta ao seu laboratório e ao seu presente.

A frase que começa a narração final dá essa impressão: “Eu estava lá. Tinha 11 e 49 anos.” Ele continua falando de 1950 como passado - no caso, um passado que ele viveu duas vezes. O que significa que ele deve estar falando isso no presente, portanto deve ter voltado.

Mas o mais importante é a fala final do narrador: “O que ficou, para a historia e para mim, foi o silêncio. E a culpa.” Ainda que ele volte, ele se transformou: não é mais o menino que assistiu uma tragédia e não conseguiu evitá-la; ele agora sabe que ele é o verdadeiro culpado pela tragédia, e por tudo que não deu certo na vida dele. Freud explica. O único jeito de evitar o passado é nunca ter estado lá - o que, é claro, não é possível.

Agora imagina se ele tivesse voltado pra tentar evitar os 7x1.