Procuro Roberto Silva no Google e encontro milhares: o sambista Napoleão, o baterista Robertinho, um financista em Campinas, um desembargador em Ponta Grossa, um contabilista em Natal…
Mas busco é pelo amigo Roberto Silva, fotógrafo e designer, que concebeu e bateu a foto do cartaz do DEU PRA TI ANOS 70 (aqueles tênis eram dele, antes e depois da foto), que fez comigo o super-8 “Expedicion Loch Nessi” pro Grupo Cem Modos e colocou na tela o Professor Franz Stumpf Bonder do Ferré, do Pedrão e do Betinho, que criou e ilustrou centenas de capas de livros (inclusive a do “Analista de Bagé” pro Luis Fernando Verissimo, com o Fraga encarnando o personagem) e discos (como o primeiro do Nei Lisboa, “Pra viajar no cosmos não precisa gasolina”), que tinha um humor muito especial e único, e que eu nunca mais encontrei pessoalmente desde que se mudou pra João Pessoa, algumas décadas atrás. É que acabei de receber a triste notícia de que não vou mais encontrar com ele. Não como eu queria. Roberto Silva se foi nessa segunda-feira, dia 25, poucos dias depois de completar 74 anos. Vai fazer falta. Já faz.
Entre os encontros que ainda são possíveis, copio abaixo um “bate-pronto” que o Tinta China, blog da Grafar, fez com ele em 2007. É pouco, bem pouco, mas dá pra ter uma pequena lembrança da inteligência, humor e doçura do amigo Roberto Silva.
BATE-PRONTO ROBERTO SILVA
Tinta China - O blog da GRAFAR, 18/08/2007 11:34
/ Profissionalismo que manda jobs, briefings e follow-ups pra pqp!
Onde estiver um Roberto Silva, tem vários. Desde a era pré-PC, ele já trazia uma work station embutida: desenhista, cartunista, ilustrador, fotógrafo, designer, capista, editor… desculpem resumir o currículo. Seu convívio com o mercado se traduz por frilas, que na linguagem robertiana quer dizer o sossego da autonomia. Como um outsider cultural, o portfólio de Roberto Silva se dispersa por lugares, épocas e projetos que vão de Lisboa (parceiro do escritor Josué Guimarães no provocativo jornal Chaimite, em 1976) a POA do Coojornal e a João Pessoa, PB, seu atual balcão criativo. Com vocês, esse deus shiva das artes gráficas:
Tinta China – Como artista gráfico, qual a sua atividade principal?
Roberto Silva – Capas de livros, sempre que possível.
Tinta China – Qual a sua maior fonte de renda com sua arte?
Roberto Silva – Ultimamente, folders, cartazes.
Tinta China – Como você negocia os valores de seus frilas?
Roberto Silva – Olhando pra cara do freguês é dizendo: “é tanto”
Tinta China – Como é um dia típico de trabalho para você?
Roberto Silva – Água-de-coco, pra dar jeito na ressaca. Depois, é igual a todo o mundo
Tinta China – Por onde você começa uma tarefa?
Roberto Silva – A tarefa é que começa comigo.
Tinta China – Quais ferramentas você utiliza e qual domina mais?
Roberto Silva – Profunda paixão por computador, desde 1985. Nem tinha PC, ainda. Mas, não dispenso uma canetinha japonesa.
Tinta China – Que condições você exige ou depende para criar?
Roberto Silva – Não trabalho pra gente de quem não gosto. Péssimo profissional, eu.
Tinta China – Como você lida com os prazos?
Roberto Silva – Os prazos é que dão um jeito em mim.
Tinta China – Como você mantém os originais que produz?
Roberto Silva – CDs e gavetas.
Tinta China – Quais suas primeiras e atuais influências?
Roberto Silva – Me criei no Uruguay, foi Patoruzito, argentino, de Tulio Lovato.
Tinta China – Onde você busca informações para apoiar suas criações?
Roberto Silva – Não gosto de conhecer “excessivamente” um tema que abordo. Prefiro ignorar e ser mais espontâneo.
Tinta China – Você tem preferência por algum tipo de papel?
Roberto Silva – Guardanapos de boteco, ultimamente.
Tinta China – Quais macetes técnicos funcionam no seu trabalho?
Roberto Silva – Nenhum em especial, que me lembre, fora tentar ser honesto.
Tinta China – Qual o seu maior conflito com o mercado?
Roberto Silva – Concorrer com clip-art e amadores.
Tinta China – que dicas básicas você daria para um iniciante?
Roberto Silva – Sejam bem-vindos e se virem.