Dois sonetos cinéfilos - ou anticinéfilos, dependendo do ponto de vista. O primeiro eu cometi dois anos atrás, mas nunca mostrei pra ninguém, acho que por medo de ser mal-entendido. O segundo veio agora, em socorro do anterior, como crítica ou explicação, talvez justificativa, sei lá.
SONETO ANTICINEFILIA
17/11/2022
Por que vocês gostam tanto de filme chato?
Pergunto aos frequentadores de cineclube.
Tarkowski, a essa altura do campeonato,
Ofende os meus algoritmos do Youtube.
Bom filme se vê na cama, sem grande esforço
E esquece depois de um mês, também sem alarde.
Filmaço, se tem diálogo, é curto e grosso.
Ninguém quer ficar deprê na Sessão da Tarde.
Pra cada cena de amor, cinco de porrada,
Com tiros e explosões pra criar o clima
E carros, perseguições pra agradar o público.
E homem de roupa preta e mulher pelada
(Se juntos na mesma cena, aí é obra-prima.)
Fellini, Buñuel, Godard - vão tomar no Kubrick!
OUTRO SONETO
30/12/2024
Escrevo pra ser lido numa dupla chave:
Do técnico que monta filmes mas também
Do professor que insiste nas aulas do CRAV
Que um filme só existe se tocar alguém.
Se eu fosse detratar os verdadeiros chatos
E não os cineastas que eu mais admiro,
Não cenas favoritas, filmes que eu prefiro,
Mas sim os pseudoartistas, velhos e novatos?
Se fosse só pra rir ia virar sarcasmo,
Se fosse só verdade seria panfleto,
Por isso optei dosar contexto e ironia.
Se eu fosse me deixar levar pelo entusiasmo,
Então seria tudo, menos um soneto,
Ou mesmo qualquer coisa que não poesia.