Saneamento básico, o filme
(2007, super-16/35 mm, 112 min, 1.85:1)
Na pequena Linha Cristal, a comunidade se mobiliza para construir uma fossa no arroio e acabar com o mau cheiro. Marina, a líder do movimento, descobre que a Prefeitura este ano só tem verba para produzir um vídeo de ficção. Então ela e seu marido Joaquim resolvem filmar a história de um monstro que surge no meio das obras de saneamento. Marina escreve um roteiro, Joaquim faz uma fantasia. Silene aceita ser atriz, Fabrício tem uma câmara. Aos poucos, as filmagens vão envolvendo todos os moradores do local.
Créditos
Roteiro e Direção: Jorge Furtado
Produção Executiva: Nora Goulart e Luciana Tomasi
Direção de Fotografia: Jacob Solitrenick
Direção de Arte: Fiapo Barth
Figurinos: Rosângela Cortinhas
Som Direto: Rafael Rodrigues
Música: Leo Henkin
Montagem: Giba Assis Brasil
Mixagem: José Luiz Sasso
Uma Produção da Casa de Cinema PoA
Elenco Principal:
Fernanda Torres (Marina)
Wagner Moura (Joaquim)
Camila Pitanga (Silene)
Bruno Garcia (Fabrício)
Janaína Kremer (Marcela)
Lázaro Ramos (Zico)
Tonico Pereira (Antônio)
Paulo José (Otaviano)
Prêmios
- Melhor Filme pelo Júri Popular do 10º Festival do Cinema Brasileiro de Paris, 2007.
- Prêmio Luiz César Cozzatti: “Destaque Gaúcho” de 2007 segundo a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS).
- 3º Prêmio Contigo de Cinema Nacional, 2008: Melhor atriz do júri popular (Fernanda Torres)
Fala do ministro
“Devemos ampliar a realidade audiovisual do Brasil em sua dimensão cidadã, ou seja, como o direito de acesso ao direito de manipular essa linguagem, em qualquer nível de pretensão. Direito de filmar, direito de que uma cidade pequena do interior do Rio Grande do sul faça, como no ótimo filme de Jorge Furtado, um filme sobre o saneamento básico e sobre os monstros que ali surgem e assim por diante. Recentemente, foi anunciado que mais de 30 milhões de pessoas saem da miséria para a classe média. Notícia que deve nos fazer refletir, além do natural contentamento que ela traz. Esse país que combate as desigualdades sociais, que projeta a igualdade de direitos sociais, deve também garantir o direito cultural de todos os brasileiros. E o audiovisual é parte dos direitos culturais da população.”
(Trecho do discurso do ministro da Cultura, Gilberto Gil, por ocasião da posse do secretário do Audiovisual, Sílvio Da-Rin. Rio de Janeiro, 10/01/2008.)
Críticas em jornais
“SANEAMENTO BÁSICO, O FILME deveria ter exibição obrigatória em escolas de cinema, devido à sua trama que esmiúça e desmistifica, de forma bastante engraçada e inspirada, a produção de uma obra cinematográfica. Deveria ser um exemplo também para (acomodados) diretores brasileiros da velha guarda que não dão a devida importância aos roteiros (calcanhar de Aquiles da cinematografia nacional) de suas obras. O filme tem momentos geniais, frutos do ótimo roteiro e da direção (mais uma vez) magistral, ambos de Jorge Furtado.”
(Daniel Levi, O Globo Online, 19/07/2007)
“Furtado sempre se interessou por formas de dramaturgia ao mesmo tempo sofisticadas e comunicativas. Também recorrente em sua filmografia é a busca de um formato contemporâneo para atualizar fórmulas consagradas. E aqui, mais do que em qualquer outro de seus filmes, a “história” é um mero pretexto; muito mais importante é o “hipertexto” que transforma a própria elaboração narrativa em personagem.”
(Pedro Butcher, Folha de São Paulo, 20/07/2007)
“Saneamento Básico é a conjunção de um elenco de primeira, um roteiro criativo e um sempre necessário cutucão ao paradoxo que é o Brasil, usando a melhor das armas: o riso.”
(Franthiesco Ballerini, Jornal da Tarde, São Paulo, 20/07/2007)
“Com muita ironia, Furtado faz um filme cujo foco é justamente o complexo processo de se fazer um filme. Do roteiro à montagem, passando pelos patrocinadores e escolha do elenco, todas as etapas estão lá. E, nesse caso, o enredo também serve como pano de fundo para uma alfinetada no bom e velho jeitinho brasileiro, nos improvisos de governos, da população e até do próprio cinema.”
(Leticia de Castro, Folha de São Paulo, 23/07/2007 - Folhateen)
“Uma metáfora bem elaborada da influência da arte em nossas vidas. Jorge Furtado pega carona na ‘commedia dell’arte’ (que tem como característica marcante o improviso) para construir uma deliciosa produção. Com muita sutileza, a comédia permite ao cineasta uma série de críticas escondidas nos bem bolados diálogos. Isso, é claro, sem falar na majestosa atuação de todo o elenco, o que faz de Saneamento Básico um dos mais inventivos filmes da nossa cinematografia recente.”
(Cristiano Luiz Freitas, Gazeta do Povo, Curitiba, 23/07/2007)
“Quando Joaquim se queixa de que o roteiro está cheio de frases infilmáveis, Marina responde que “encheu lingüiça” um pouco porque a portaria diz que precisa ter no mínimo 10 páginas. E roteiro não serve para nada, só para pegar o dinheiro, uma piada cínica, recorrente entre cineastas que, em busca de dinheiro oficial, ou em concursos públicos, são obrigados a apresentar roteiros que não têm a mínima intenção de seguir, se vierem a filmar.”
(Luiz Zanin, O Estado de São Paulo, 25/07/2007)
“As brincadeiras permitidas pela inépcia dos que realizam aquele relato sobre um monstro gerado pela poluição se aproximam perigosamente do humor televisivo, mas a manobra executada pelo realizador, ao explorar o contraste entre a vida cotidiana e a ficção encenada daquele quarteto, sobretudo na primeira seqüência do filme fictício, repetida várias vezes, termina num efeito apreciável. E há três cenas que poderiam servir de lição a alguns realizadores nacionais sobre como empregar música em cinema. São elas: as recordações dos dois velhos amigos, a despedida da motocicleta e a da descoberta da beleza da protagonista do filme inserido em Saneamento Básico. Esta última seqüência também sintetiza, em mensagem colocada com ironia, a proposta do filme.”
(Hélio Nascimento, Jornal do Comércio, 27/07/2007)
“Com esses personagens caricatos, Furtado mostra os tais encantos universais do cinema. Um cinema que pode fazer chorar, rir, refletir, revoltar. Tanto numa comédia, como é SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, como num B, como é ‘O monstro do fosso’, o filme feito dentro do filme. Como diz o personagem de Tonico Pereira: ‘Isso é cinema, isso não é de verdade, não’.”
(André Miranda, O Globo, 11/08/2007)
“Furtado se supera na metalinguagem. Acompanhar a construção do curta escrito e dirigido por Marina (Torres) é uma delícia. Partindo do zero (não sabe nem mesmo o significado da palavra ficção), ela vai descobrindo intuitivamente os processos de filmagem à base da tentativa e erro. Exatamente como aconteceria com o público comum se estivesse na pele daquela gente. Por isso o processo de identificação entre o espectador e os personagens é tão direto.”
(Doris Miranda, Correio da Bahia, 24/08/2007)
“A dificuldade de compreensão do cinema de Furtado deve-se em boa medida à inusitada combinação que preside parte significativa de seus filmes: uma forma divertida, leve, associada a um conteúdo sério, contundente. A linguagem do cineasta apresenta essa peculiaridade desde os primeiras curtas, entre os quais destaca-se Ilha das Flores, de 1989. Quase 20 anos se passaram, ao longo dos quais Furtado consolidou um estilo extremamente pessoal. Ainda assim, há quem julgue seus filmes como de entretenimento, apegando-se apenas à superfície leve e convidativa da forma e desconsiderando o peso e o alcance das questões ali embutidas.”
(Luciana Paiva Coronel, Zero Hora, 25/08/2007)
“Para além da crítica, SANEAMENTO BÁSICO - O FILME é uma calorosa declaração de amor à ficção - não necessariamente à científica, ressalve-se. Furtado mostra com sensibilidade o poder aliciante da fabulação e do cinema, capaz de mobilizar as pessoas que lhes são mais refratárias e vicejar em condições adversas e lugares remotos, invocando a primazia da imaginação mesmo quando a realidade impõe suas necessidades - como saneamento básico.”
(Roger Lerina, Zero Hora, 27/08/2007)
“Jorge Furtado’s BASIC SANITATION, THE MOVIE is an amusing comedy about townspeople who take desperate measures to fix the local sewer problem, tapping into a governmental grant earmarked for a film project, which of course requires these amateurs to put together a movie. It’s a crowd-pleaser in the fashion of ‘Waking Ned Devine’.”
(Martin Tsai, The Sun, New York, 15/07/2008)
Críticas em revistas
“A questão de fundo em SANEAMENTO BÁSICO, O FILME é: o cinema deve ser prioridade em um país com tantas e tamanhas carências? Para Furtado, a resposta é sim, os problemas culturais e os estruturais do país devem ser atacados em conjunto. Mas a força do filme vem menos da política e mais da comédia, das trapalhadas cometidas pelos amadores em sua primeira experiência cinematográfica, algumas delas não muito distintas das cometidas pelos profissionais.”
(Ricardo Calil, Revista BRAVO, julho/2007)
“O novo trabalho de Jorge Furtado (…) é engraçado como poucos títulos brasileiros recentes têm conseguido ser. De quebra, faz uma charmosa defesa do cinema nacional que, aqui e acolá, é tratado como algo menor, quando não inútil. Furtado, escritor hábil, roteirista da TV Globo, manipula as fragilidades do próprio ofício para, não sem contradição, valorizá-lo.”
(Ana Paula Sousa, Revista CARTA CAPITAL, 16/07/2007)
Nos longas de Jorge Furtado nunca faltou humor. Em SANEAMENTO BÁSICO, O FILME, em cartaz nacional no dia 20, a piada ganha face política. Na trama, a população de um vilarejo reivindica a construção de uma fossa, mas não há verba. Em compensação, sobrou dinheiro público para um filme. A família formada por Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga e Bruno Garcia se junta para realizar um vídeo e aproveitar o dinheiro na obra. O que começa como uma crítica à distribuição de recursos termina como declaração de amor ao cinema. Pois, para Furtado, filmes também são imprescindíveis.
(Ivan Cláudio, Revista ISTO É, 18/07/2007)
Críticas na internet
“No meio de tudo, o diretor tece seus comentários sobre o financiamento público da cultura. Furtado assume, por meio do filme, que há distorções no sistema. Seus personagens questionam a todo momento: como o governo pode dar dinheiro para o cinema se as pessoas mal têm esgoto? Com o desenrolar de Saneamento Básico - O Filme, porém, os personagens-cineastas percebem o valor do que estão criando. Não é algo tangível, que dê pra colocar numa prestação de contas, mas um valor simbólico, emocional. E é dessa riqueza incalculável que o bom cinema é feito.”
(Marcelo Hessel, OMELETE, 19/07/2007)
“SANEAMENTO BÁSICO, O FILME é uma comédia enxuta, lúdica na medica certa. Sem perder a ternura jamais. São belos os momentos em que o humor abre espaço, no tempo exato, para a poesia. A cena em que o personagem de Wagner Moura anda em sua velha motocicleta ao som de uma romântica música italiana (a trilha sonora está recheada delas) é magnífica. Um achado, entre tantos outros nessa obra honesta de Furtado.”
(Rubens Araújo, COMUNIWEB, 19/07/2007)
“SANEAMENTO BÁSICO, O FILME é diversão com qualidade garantida. Jorge Furtado continua mostrando porque é um dos grandes cineastas brasileiros. ‘Se é para fazer, melhor fazer bem feito’, diz o slogan do filme, em referência ao desafio proposto aos personagens da história. E este, felizmente, é um exemplar do nosso cinema muito bem feito.”
(Emilio Franco Jr., Cine Players, 19/07/2007)
“O humor com que Jorge Furtado trata de brincadeiras como essa concede verdade a SANEAMENTO BÁSICO, O FILME. Nada como rir de uma paixão para garantir olhar crítico sobre ela. Como efeito colateral, a relação entre o filme e o próprio cinema pode ser vista de dois pontos de vista distintos. Para o público leigo, estarão boas piadas sobre o cinema thrash, sobre o ego de artistas, sobre vícios da indústria, sobre os erros das políticas públicas. Os que acompanham o pensamento sobre a arte, contudo, perceberão no filme ecos de pensadores como Adorno ou Benjamin, numa incomum aliança entre comédia e filosofia, que ao mesmo tempo em que entretém o espectador, treina seu olhar crítico.”
(Marcello Castilho Avellar, DIVIRTA-SE, Belo Horizonte, 20/07/2007)
“Além de ser uma comédia deliciosa, os personagens têm uma ligação afetiva forte e calorosa. (…) Também fascina a forma como todos se envolvem com a produção do vídeo. Se no começo eles não faziam a mínima idéia do que é um filme de ficção, por exemplo, são conquistados pela arte de se fazer filmes ao longo do processo. Com um humor ao mesmo tempo inocente e extremamente sagaz, SANEAMENTO BÁSICO, O FILME é o filme mais maduro na carreira de Furtado.”
(Angélica Bito, Yahoo Cinema, 20/07/2007)
“O fundamental e o mais divertido em Saneamento Básico são as críticas e ironias com o cinema nacional. (…) A cena final, em que se discute o que aconteceu com a verba destinada ao esgoto, é o ápice desta tragicomédia e dá vontade de chorar - pelo menos para quem trabalha com produção cultural. Tendo levado o espectador até ali de maneira suave e quase ingênua, Jorge aqui dá a sua facada final. Uma comédia intensamente política.”
(Maria Silvia Camargo, Críticos.com, 31/07/2007)
“O filme ainda traz outra marca de Furtado que é a riqueza dos diálogos e cenas, principalmente no que eles trazem de mais corriqueiro, como a discussão de um casal sobre a micose ou os dois tomando remédio juntos. Na mesma proporção, o diretor insere o erudito inusitado como na cena de Silene recitando um poema sobre o cabelo. Tudo se transforma numa brincadeira autoral e comunicativa. Este mesmo clima de brincadeira também se reflete no ótimo entrosamento dos atores e muito do humor só consegue ser alcançado por conta disso - o que nos faz lembrar que Saneamento Básico é mais uma produção da Casa de Cinema, grupo unido há 20 anos e que não teve que sair de Porto Alegre (o que também vira brincadeira no filme) para produzir seus curtas e longas-metragens.”
(Lila Foster, Revista Cinética, 03/08/2007)
“Se, por um lado, Furtado parece em alguns momentos estar fazendo o elogio de um cinema naif e inocente (como num estágio pré-técnica), ou de um vale-tudo criativo para além de qualquer crítica (que todos façam filmes, não importam quais), por outro, há o estímulo da paixão pela criação artística antes de qualquer coisa. E, quem sabe até mais importante, o incentivo que esta tenha meios de se manifestar em qualquer lugar: num grande centro ou numa comunidade afastada. Porque disto depende a saúde artística (para além da rubrica de “cultura”) de um povo: da multiplicidade e diversidade de tudo aquilo que não é ordinário, mas pessoal, inventivo e apaixonado.”
(Tatiana Monassa, Contracampo, agosto/2007)
Tema musical
“Tema da pinguela”, Leo Henkin