ILHA DAS FLORES eleito o mais importante curta brasileiro

Matéria de Amir Labaki publicada na Folha de São Paulo de ontem, 9/7/2002:

O filme gaúcho “Ilha das Flores” (1989), documentário experimental do cineasta Jorge Furtado sobre um lixão próximo a Porto Alegre (RS), foi eleito o mais importante curta-metragem brasileiro em eleição organizada pelo site http://www.portacurtas.com.br.

Premiado em festivais pelo mundo afora, incluindo um Urso de Prata em Berlim, em 90, “Ilha” já havia sido incluído em 1995 na lista de cem melhores curtas da história pelo Festival Internacional de Curtas-Metragens de Clermont-Ferrand, considerado o “festival de Cannes do formato”.

Furtado emplacou também o terceiro posto, com a ficção “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda” (86), co-dirigida por José Pedro Goulart. Atual roteirista e diretor ligado ao núcleo Guel Arraes, da Rede Globo, ele marca, neste ano, sua estréia em longas-metragens com dois filmes: “Houve uma Vez Dois Verões”, já lançado comercialmente no RS, e “O Homem que Copiava”.

A lista dos dez mais do curta nacional, votada por uma dezena de críticos, programadores e cineastas, é heterodoxa em gêneros e dispersa em épocas (veja lista ao lado). Quatro dos escolhidos pertencem à chamada “primavera do curta”, da virada dos anos 80 até meados dos 90. Dois são assinados por líderes do cinema novo. Um traz a assinatura de um dos pioneiros do cinema nacional, o mineiro Humberto Mauro. Outro representa o cinema marginal do final da década de 60. Por fim, dois outros marcam experiências originais do início dos anos 80.

A relação destaca curtas com um pé na experimentação. É um justo retrato do poder de renovação tradicionalmente exercido pelo formato no Brasil. Os principais exemplos são o protoclipe “Velha a Fiar”, de Mauro, o próprio “Ilha das Flores”, “Blá, Blá, Blá”, de Andrea Tonacci, o subversivo “Mato Eles?”, de Sérgio Bianchi, e o ainda proibido “Di”, de Glauber Rocha. Com exceção do curta anárquico de Tonacci, poderiam ser todos considerados variações de documentários.

Três curtas representam a produção ficcional: “Couro de Gato”, de Joaquim Pedro de Andrade, do filme cinemanovista de episódios “Cinco Vezes Favela”; o citado “Dorival”; e “Dov’e Meneghetti”, de Beto Brant. O cinema de animação emplacou dois títulos, exemplares de técnicas distintas. São o desenho “Meow”, de Marcos Magalhães, premiado no Festival de Cannes, e a animação de bonecos “Frankenstein Punk”, de Eliana Fonseca e Cao Hamburguer.

Um total de 60 curtas foi lembrado na votação. O projeto Porta-Curtas é uma iniciativa da distribuidora Synapse, coordenada por Julio Worcman, Bruno Vianna e Gabriela Dias, e faz parte do programa Petrobras Cinema.

O projeto pretende promover o curta brasileiro através de uma série de ações, como a exibição pela internet de um total de cem curtas nacionais. A intenção original era apresentar, já em agosto, todos os dez mais votados. Problemas de direitos e de duração com três deles (“Di”, “Mato Eles?” e “Blá, Blá, Blá”) os exclui inicialmente do pacote on-line. Serão substituídos por quatro outros títulos da lista: os documentários “Som, ou Tratado de Harmonia” (84), de Arthur Omar, e “Rota ABC” (91), de Francisco César Filho, e as ficções “Viver a Vida” (91), de Tata Amaral, e “Cartão Vermelho” (94), de Laís Bodanski.

Amir Labaki