60 anos de golpe, 40 de VERDES ANOS

Poucos dias atrás o Brasil descomemorou 60 anos do golpe civil-militar que rendeu 21 anos de ditadura, censura e tortura, período de muitas mesuras e imposturas, só no final muito pouca abertura e nenhuma lisura por parte do pessoal que não queria entregar a rapadura. Para marcar a data, a Sala Redenção da UFRGS está, desde a semana passada, apresentando a mostra “60 anos do golpe”, com vários documentários e dois filmes de ficção. Nessa quinta-feira 11/abr passa “Deslembro”, e haverá debate com a diretora Flávia Castro. E na sexta, encerrando a mostra, VERDES ANOS, direção de Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, também com conversa no final.

A coincidência é que uns dias antes, na terça 09/abr, completam-se 40 anos da pré-estreia de VERDES ANOS, no Festival de Gramado onde o filme recebeu o “Prêmio Revelação” (que na época a equipe chegou a pensar que seria pago em serviços da Líder Cine Laboratórios). Sete semanas depois, dia 25 de maio de 1984, VERDES ANOS estreou nos cinemas Scala (na rua da Praia) e Coral (na 24 de outubro), iniciando uma carreira comercial de mais de 100 mil espectadores em Porto Alegre e quase ninguém no resto do país.

Abaixo, texto de apresentação da mostra “60 anos do golpe civil-militar”, pelo curador Nilo Piana de Castro.


SESSENTA ANOS DO GOLPE CIVIL-MILITAR, TÃO LONGE, TÃO PERTO
por Nilo Piana de Castro
Sul 21, 28/03/2024 | 10:49

/ Sala Redenção, da UFRGS, terá Mostra de Cinema Sessenta Anos do Golpe Civil-Militar (1964-2024).

O golpe se torna um idoso. São sessenta anos de uma marca profunda gravada a ferro e fogo no povo brasileiro e no desenvolvimento do país. O Brasil, que através de reformas deveria caminhar para ser uma sociedade mais justa já naquele distante 1964, foi subtraído da soberania popular e a nação submergiu em tenebrosas transações, que resultaram em um dos países de maior desigualdade no mundo.

No início dos anos sessenta, os brasileiros se voltavam para os seus problemas e suas contradições internas, para uma maior participação da população nos processos políticos e mudanças sociais. Uma parcela das elites criou a ilusão de que a disputa era entre o Ocidente e o Oriente, entre o capitalismo e o comunismo, entre os cristãos e os ateus. Foi pelos interesses imediatos do grande irmão do Norte e seus sócios locais que o braço armado do funcionalismo público nacional, as Forças Armadas, massacrou a democracia perseguindo, prendendo, torturando, matando e desaparecendo com pessoas sob o falso pretexto de proteger as liberdades democráticas, mas, na verdade, sustentando o privilégio de poucos.

Já em sua terceira idade e justamente, por não ter sido educado, assumido ou mesmo punido com o devido rigor, esse decrépito personagem continua a gerar perigosos descendentes provando que nem toda velhice é lúcida. Os antidemocráticos, autoritários, inurbanos e golpistas continuam ameaçando a República e comprometendo o futuro do país como na intentona de janeiro de 2023. Provavelmente, esperando herdar também a impunidade que se arrasta por seis décadas nesse passado vivo.

A Sala Redenção convida o público para descomemorar esse triste aniversário assistindo e debatendo uma mostra de filmes nos quais as diretoras e os diretores estabelecem uma profunda relação com a memória, com a necessidade de esclarecimento, com o posicionamento perante o passado e a busca por justiça, para vislumbrar um futuro de plena liberdade cidadã democrática.

Mostra de Cinema Sessenta Anos do Golpe Civil-Militar (1964-2024), tão longe, tão perto.

01/04 - 19 Horas - O dia que durou 21 anos (Camilo Tavares, 2013, 77 min). Pós exibição debate com os professores Nilo Piana de Castro e Alexandre Andrades.

02/04- 19 Horas - A Batalha da Maria Antônia (Renato Tapajós, Brasil, 2014, 76min.).

03/04 - 19 Horas - Mario Wallace Simonsen, entre a memória e a história (Ricardo Pinto e Silva, 2013, 110 min). Pós exibição debate com o Diretor Ricardo Pinto e Silva.

05/04 - 19 Horas - Ibiúna, Primavera Brasileira (Silvio Tendler, 2019, 81 min.).

08/04 - 19 Horas - Pastor Cláudio (Beth Formaggini, 2017, 76 min.).

09/04 - 19 Horas - Utopia e Barbárie (Silvio Tendler, 2009, 120mi.). Sessão do Clube de Cinema de Porto Alegre com debate pós exibição.

10/04 - 19 Horas - Codinome Clemente (Isa Albuquerque, 2019, 98 min.). Pós exibição debate com a Diretora Isa Albuquerque.

11/04 - 19 Horas - Deslembro (Flávia Castro, 2019, 96 min.). Pós exibição debate com a Diretora Flávia Castro.

12/04 - 19 Horas - Verdes Anos (Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase, 1984, 90Min.) Pós exibição debate com os Diretores Giba Assis Brasil e Carlos Gerbase.

(*) Doutor em Ciência Política pela UFRGS e professor de História no Colégio de Aplicação da UFRGS (CAp UFRGS).