Viajando em Mapas

“Passei a infância debruçado sobre mapas, sonhando ser o capitão de um navio”. Pier Paolo Pasolini.

Lembro muito bem de um grande atlas que ganhei de presente de meu pai quando fiz dez anos: Atlas Mundial, letras douradas, capa dura coberta com um material emborrachado cor de vinho, lombada de tecido, com centenas de mapas de todos os tipos, mapas da lua, do céu, da produção de alimentos na terra, das religiões, dos fluxos migratórios das aves e das principais correntes marítimas, terminando num gigantesco índice onomástico em letras miúdas, com lugares de nomes inacreditáveis.

Faz tempo que não consulto o meu velho atlas - está aqui perto, na prateleira dos livros grandes - mas imagino que os contornos dos continentes não tenham mudado muito desde então. As estatísticas, no entanto, são do tempo da União Soviética, a moeda nacional era o cruzeiro e o Mato Grosso do Sul não existia.

Em tempos de Google Earth, uma representação gráfica do planeta com um nível de detalhamento que chega a ser invasivo, atlas impressos se tornam um luxo dispendioso. O tempo necessário para revisar e publicar um bom atlas é maior do que a longevidade de alguns países e de suas fronteiras, para não falar de suas moedas e indicadores sociais.

Em vista do exposto…

Muito bom o site recém lançado pelo IBGE, Países@. (http://www.ibge.gov.br/paisesat/). Bom e simples: um mapa mundi clicável, com informações sobre cada país, incluindo as tradicionais - mapas, bandeira, principais cidades - e muitas que só são possíveis num atlas on-line, como indicadores sociais e econômicos atualizados. Todos os dados são acompanhados das fontes e de tabelas comparativas.

Foi ali que fiquei sabendo, por exemplo, que na Islândia, país com o maior desenvolvimento humano no planeta (IDH 0,968*), há 99 celulares para cada 100 habitantes. (Parece que Eidur Gudjohnsen perdeu o dele ao escalar uma geleira.) Na Islândia não há registros de crianças subnutridas, analfabetos ou casas sem água potável. De cada 100 islandeses, 67 tem acesso a internet. Já em Serra Leoa, o país mais pobre do mundo (IDH 0,336), há 2 celulares para cada cem habitantes, metade da população é subnutrida e não há internet.

Além dos mapas, há uma ou duas fotos de cada país, certamente uma escolha difícil. No Brasil, duas imagens: uma praia paradisíaca (acho que do litoral carioca) e o museu do Niemeyer em Niterói. Na França, a Torre Eiffel e uma ponte sobre o Sena. Em Londres, o Big Ben e o Parlamento. E, imagino, assim por diante.

A única foto do Gâmbia, minúsculo país da costa oeste da África, mostra um campo cultivado onde uma pequena área, de mais ou menos 50 metros quadrados, parece ter sido recentemente ceifada. No centro deste quadrado, 10 sacos empilhados. Talvez seja o resultado da colheita, talvez os 10 sacos empilhados seja um monumento nacional, talvez seja toda a comida que resta no Gâmbia, não sei. Viajar por mapas também tem os seus mistérios.

Endereço do site Países@: http://www.ibge.gov.br/paisesat/

* Para saber mais sobre o Índice de Desenvolvimento Humano clique aqui.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Listade_pa%C3%ADses_por%C3%ADndice_de_desenvolvimento_humano


COMENTÁRIOS

Enviado por lizi em 19 de fevereiro de 2008.

Oi Jorge, Olha estes mapas aqui: http://strangemaps.wordpress.com/

Enviado por Ricardo Dagnino em 03 de março de 2008.

Olá, Vou colocar um link para este texto no meu blog www.profissaogeografo.blogspot.com Achei muito legal a novidade do IBGE e a maneira como Jorge Furtado fala dos mapas. Acho muito importante continuar fazendo mapas mesmo que se gaste muito tempo para fazer e divulgar o trabalho. Nesse sentido repito as palavras do autor, lembrando que Atlas e mapas são documentos geográficos, mas também históricos: “O tempo necessário para revisar e publicar um bom Atlas é maior do que a longevidade de alguns países e de suas fronteiras, para não falar de suas moedas e indicadores sociais.” Não fosse assim, como seria possível comparar o Brasil do Cruzeiro com o Brasil do Real, o Brasil sem Mato Grosso do Sul e o mundo com União Soviética? Abraço, Ricardo