A gravação sem som e a ficha sem papel

por Jorge Furtado
em 05 de julho de 2009

Quem armou a fraude do grampo sem áudio Gilmar-Demóstenes, capa da Veja?

Quem armou a fraude da ficha digital de Dilma Roussef, capa da Folha?

O mais alto juiz da nação provocou uma crise institucional (1) com base no que ele agora chama de denúncia “extremamente verossímil”, grandes jornais e revistas publicam em suas capas não os fatos, mas sim aquilo que dizem não poder “afirmar não ter acontecido”, testando hipóteses que, dizem, “não podem ser descartadas”.

“Não se pode afirmar que não sejam” cúmplices do crime de fraude, no caso do grampo sem áudio, os ministros Gilmar Mendes e Nelson Jobim, bem como o senador Demóstenes Torres, do DEM e a revista Veja.

“Não se pode afirmar que não tenham sido”, nesta fraude, amplamente apoiados por todos os grandes veículos de comunicação do país.

“Não se pode descartar a hipótese” da ficha digital de Dilma Roussef, que Folha afirmou ter saído dos porões da ditadura brasileira, ter sido criada no departamento de arte do jornal.

“Não se pode descartar a hipótese” da Folha ter publicado a fraude sabendo que era uma fraude.

É “extremamente verossímil” que o que parece ser mentira e manipulação para favorecer um determinado grupo político seja exatamente o que parece ser.


No momento em que a Polícia Federal, depois de 10 meses procurando cabeça em chifre de cavalo (quanto nos custou esta investigação?), conclui o óbvio, grampo sem áudio não existe, é bom reler este trecho do depoimento do ministro Nelson Jobim à CPI dos Grampos, em 6 de novembro de 2008:

O SR. NELSON JOBIM - Veja, deputado, há um dado importante: tanto o Ministro Gilmar Mendes quanto o senador Demóstenes confirmam o diálogo.

O DEPUTADO LAERTE BESSA - Confirmam.

O SR. NELSON JOBIM - Logo, o diálogo houve. Se o diálogo houve, e confirmado pelos próprios integrantes, houve a gravação. E, se houve a gravação, a gravação foi ilícita.

O DEPUTADO LAERTE BESSA - Foi ilícita.

O SR. NELSON JOBIM - Então, não há que se discutir mais ter havido isso.

Como agora se sabe, não há mesmo que se discutir ter havido isso. E agora? Como é que fica?

Jorge Furtado

(1) “Num país em que o presidente do Supremo Tribunal Federal se vê objeto de escutas telefônicas clandestinas, não há dúvida de que o direito à privacidade, garantia fundamental num regime democrático, encontra-se ameaçado.” Abertura do editorial da Folha de São Paulo, 12/09/08.

Mais sobre o depoimento do Ministro Nelson Jobin na CPI dos grampos:

Para ler o depoimento do Ministro Nelson Jobim sobre o assunto na CPI dos Grampos, ver notas taquigráficas completas aqui.