A velha canção do ódio

por Jorge Furtado
em 06 de outubro de 2010

Votei e vou votar outra vez na Dilma pelos mesmos motivos que votei tantas vezes no Lula: eleger um governo que promova desenvolvimento com justiça social, privilegiando a geração de empregos e a distribuição de renda, como foi o de Lula e Dilma e ao contrário do que foi o da coligação demo-tucana que lhe antecedeu, representada neste segundo turno por José Serra e Indio da Costa.

Adoraria já ter mudado de assunto, mas fazer política inclui não desistir mesmo quando a conversa se torna para lá de chata e os argumentos vão muito além da hipocrisia, adentrando o território do cinismo.

A Folha - ou seja, a campanha de Serra - afirmar na capa que o “PT discute retirar aborto de seu programa de governo” não tem outro nome: é mentira pura e simples.

Mentira com fins eleitoreiros, motivação rasteira, indesculpável sordidez, como bem definiu o professor Marco Aurélio Garcia: “O aborto não consta do programa de governo da candidata do PT. Portanto, é impossível retirar uma coisa que não tem. O Serra tenta fazer do aborto uma questão central do segundo turno para desviar o foco do debate de programa de governo, que ele não tem. Aí, parte para uma guerra suja, para desqualificar a nossa candidata. E como não tem coragem para assumir a paternidade a sordidez, ele a terceiriza para os seus paus-mandados.”

http://www.viomundo.com.br/politica/marco-aurelio-garcia-manchete-da-folha-e-mentirosa.html

Pois a cara de pau dos paus-mandados não tem limite. Depois de publicar mentiras na capa, a Folha - ou seja, a campanha de Serra - dá espaço para o Serra repetir a mentira criticando sua publicação na Folha! Diz o Serra, na Folha: “Eu nunca disse que era a favor do aborto porque eu sou contra. (…) Chegou-se ao máximo de estampar em primeira página que o PT ia tirar o aborto do programa. O que não tem direito é uma campanha presidencial enrolar”.

Quem chegou ao cúmulo de estampar a mentira na capa foi a Folha, ou seja, a campanha de Serra.

Os argumentos moralistas, quem roubou menos, quem investigou mais, quem sonegou ou quebrou mais sigilos de quem, quem conversa ou não conversa com bandidos, só convencem os tolos, que felizmente estão em minoria. Só não são piores que os argumentos religiosos, padres pregando voto no altar, com a imagem do Cristo crucificado ao fundo.

O padre José Augusto, da Igreja Canção Nova, diz neste vídeo, gravado em 5 de outubro, que “nunca viu uma eleição tão agitada”, seja lá o que isso signifique, e põe-se a delirar sobre política. Diz que ninguém vai arrancar o crucifixo da sua casa, podem até matá-lo. Fala contra os homossexuais, contra o PT e chama os padres da igreja católica de “bandos de covardes”. Assustador.

Vejo a imagem de Cristo atrás deste nazipastor e lembro do que ele disse: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. Não reconheço Cristo em quem é tão claramente movido pelo ódio.

Atenção: A igreja Canção Nova mandou retirar o vídeo do Youtube, quer censurar a web, não vai conseguir. O vídeo já está em outro lugar, aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=8UhPSFbGEn0

Lula queria um plebiscito, seu governo contra o dos tucanos, esquerda versus direita, bem simples de entender, como ele gosta e sabe que funciona. Marina não deixou, impôs seu ponto de vista, certa ela.

Marina teve votos de muita gente boa, pessoas que pensam no desenvolvimento sustentável, que duvidam que furar e cavar o chão, embalar para viagem e mandar de navio para a China tem lá seus inconvenientes.

Marina - e Serra, é claro - teve votos também de pessoas extremamente reacionárias, que não toleram homossexuais, gente que acha que as decisões sobre pesquisas científicas com células tronco ou sobre os direitos de assistência médica para adolescentes pobres que tentaram fazer um aborto usando uma agulha de tricô - já que não podem pagar o preço que cobram as clínicas frequentadas pelas moças de bem - devem ser tomadas segundo a interpretação superficial que fazem das más traduções das palavras de profetas hebreus que viveram há mais de dois mil anos, enfim, delírios místicos, em sua maior parte cuidadosamente simulados para arrecadar doações, isentas de imposto de renda.

Neste segundo turno, antes de decidir se você é a favor da candidatura de Dilma, veja quem está contra ela.

E também quem está a favor, como o deputado federal Gabriel Chalita, eleito com grande votação em São Paulo, que aqui fala sobre política e religião:

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Atualizado em 09/10/10

Jornalismo covarde e oportunista

O UOL, propriedade do jornal de Folha de S. Paulo, que cumprindo determinações da campanha de José Serra trouxe e mantém a questão religiosa na pauta eleitoral, ainda quer se fazer de moderninho e neutro. O colunista Mauricio Stycer diz hoje que “O Brasil regride séculos com programa eleitoral sobre Deus, aborto e família”, e então passa a exercitar seu equilibrismo acusando ambos os candidatos de “recorrerem a Deus para conseguir votos”.

Quem trouxe a questão religiosa para a eleição foi, como todos sabem, a direita mais tacanha e reacionária, representada nesta eleição por José Serra, Indio da Costa, alguns nazipastores e pela Folha de S. Paulo. Quem, portanto, pretende fazer o Brasil regredir alguns séculos é José Serra, Indio da Costa e a Folha de S. Paulo. A campanha de Dilma, é claro, precisa se defender da campanha de Serra, que entrou na eleição como “Zé, o amigo de Lula” e vai encerrar sua carreira política como “José Maria Jesus Serra do Espírito Santo”, um acólito da TFP.

A argumentação do jornalista do UOL é constrangedora. A Folha é mais do que cúmplice, é artífice daquilo que o seu jornalista agora chama de “obscurantismo e perseguição religiosa”.

Aqui, o malabarismo completo do UOL:

http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/10/08/brasil-regride-seculos-com-programa-eleitoral-sobre-deus-aborto-e-familia.jhtm