Tony Rabatoni

por Giba Assis Brasil
em 26 de abril de 2014

(mensagem para Luiz Fernando Rabatone)

Convivi com Tony Rabatoni na primeira diretoria da APTC: entre 1985 e 1987, tínhamos reuniões toda semana, participávamos de eventos, etc. Era delicioso ouvi-lo contar histórias de seus primeiros tempos na Vera Cruz, sua convivência com figuras como Glauber Rocha e Ruy Guerra, e mesmo as suas experiências mais recentes com o pessoal da “Boca do Lixo” paulista, antes que ele se mudasse definitivamente para Porto Alegre. Ao mesmo tempo, era triste vê-lo como um fotógrafo multipremiado, responsável por alguns dos filmes mais importantes do cinema brasileiro, mas que naquele momento estava longe de suas referências, com dificuldade para conseguir trabalho fora da publicidade.

Nos anos seguintes, sei que a situação dele se tornou ainda mais difícil. Nunca cheguei a trabalhar com ele, mas tive vários depoimentos de pessoas que o consideravam um ótimo fotógrafo, mas com uma formação “clássica” (o que, no meio cinematográfico, em alguns casos significa “fora de moda” ou mesmo “ultrapassado”). O único bom filme que ele fotografou neste período, o curta-metragem “532” (de 1988, história de dois meninos do interior que tentam impedir que uma velha locomotiva seja transformada em sucata) desmente isso, com sua belíssima fotografia a cores.

Nos anos 1990, encontrei poucas vezes com o Tony. No final de 1994, fiquei muito triste quando soube que ele estava vendendo todos os seus livros e equipamentos para pagar o tratamento da doença. Conversei com a Secretaria de Cultura e marcamos uma homenagem pública a ele (e também uma maneira de arrecadar algum dinheiro para ajudá-lo), que chegou a ser marcada mas foi cancelada por motivo de saúde. Ele foi internado e não voltou mais do hospital.

As pessoas com quem ele tinha trabalhado recentemente diziam que ele não tinha parentes próximos, e certamente nenhum aqui no Rio Grande do Sul. Foi um final triste para um artista com a importância que ele teve.

Há poucas imagens dele. Tony era um fotógrafo, e os fotógrafos raramente aparecem nas fotos, pois estão sempre por trás da câmara. Agora, com a fotografia digital, isso mudou um pouco - todo mundo tem alguma câmara apontando para todos os lados o tempo todo. O que eu tenho é apenas a fotinho 3x4 que ele forneceu para a ficha de sócio da APTC. Como a associação foi fundada em maio de 1985 e ele foi o sócio número 02, acredito que a imagem seja bem do início daquele ano, quando o Tony tinha 58 anos.