A estupidez humana

por Giba Assis Brasil
em 26 de julho de 2014

(mensagem para Teo Meditsch)

O filme é italiano, de 1981, se chama “A pele” (“La pelle”) e foi dirigido pela Liliana Cavani, com roteiro do Robert Katz a partir do romance homônimo do Curzio Malaparte. Se passa em Nápoles, em 1943, durante a guerra.

Não achei o texto original do livro. Mas encontrei as legendas em inglês do filme. O tal diálogo sobre a estupidez humana é assim:

-- This damn thing there, Vesuvius. They said it hadn’t had an eruption in 50 years. This is a historic day.

-- Right, Bob…

-- Here, in San Sebastiano… At the foot of the volcano. All vehicles on duty now!

-- What are the orders?

-- All land and air crews at work in civilian rescue!

-- Aren’t you afraid?

-- Fear? The only thing that makes me afraid, is human stupidity. Yes, because, unlike everything in the world… is endless.

Ou, traduzindo:

-- Essa merda de Vesúvio. Dizem que não entrava em erupção há 50 anos. Hoje é um dia histórico.

-- Certo, Bob…

-- Aqui, em San Sebastiano, ao pé do vulcão. Todos os veículos de plantão agora.

-- Quais são as ordens?

-- Todas as tripulações terrestres e aéreas trabalhando no resgate de civis!

-- Você não tem medo?

-- A única coisa que me dá medo é a estupidez humana. Sim, porque, ao contrário de todo o resto, ela é infinita.

Na internet se encontra com facilidade uma citação muito parecida com essa, falsamente atribuída ao Einstein:

“Only two things are infinite, the universe and human stupidity, and I’m not sure about the former.”

(Duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, e eu não tenho tanta certeza quanto à primeira.)

Mas o Einstein dificilmente teria feito essa piada, assim como ele nunca disse que “tudo é relativo”. A origem da confusão, segundo o Quote Investigator parece ser um livro de 1947 do gestalt-terapeuta Frederick Perls, “Ego, Hunger and Aggression: a Revision of Freud’s Theory and Method”, em que ele escreveu o seguinte:

“… a great astronomer said: ‘Two things are infinite, as far as we know - the universe and human stupidity.’ To-day we know that this statement is not quite correct. Einstein has proved that the universe is limited.”

(Um grande astrônomo disse: ‘Até onde sabemos, duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana.’ Mas hoje podemos afirmar que essa frase não é totalmente correta. Einstein provou que o universo é limitado.”)

Procurando em francês, dá pra encontrar frases quase iguais atribuídas a Ernest Renan (1903), Gustave Flaubert (1880) ou Jules-Paul Tardivel (1887):

“Aujourd’hui je sais qu’il n’y a pas de limites à la bêtise humaine, qu’elle est infinie”.

(Hoje eu sei que não há limites para a estupidez humana, que é infinita.)

Mas eu acho que, no fundo, a ideia deve vir dos gregos. Ou melhor: dos romanos, que tinham mais tempo pra ficar falando mal uns dos outros.