O Brasil piorou para quem?

por Jorge Furtado
em 15 de outubro de 2014

Muita gente acha que o Brasil piorou nos últimos anos. Para você, piorou? Para seu amigos? Para as pessoas que trabalham com você? Piorou para alguém que você conhece?

Em maio de 1999, durante o segundo governo de FHC, escrevi um texto sobre a desigualdade social no Brasil.

“…somos campeões mundiais absolutos da injustiça social. Por qualquer índice ou critério, somos o país mais injusto do mundo, o de maior concentração de renda.” (1)

Principalmente por isso, para lutar contra a desigualdade social, desde então e desde sempre votei na esquerda. Acho que há homens e mulheres honrados em todos os lados e partidos, como há picaretas e bandidos por todos os lados também, na política e fora dela.

Lula se elegeu em 2002, como todos sabem, e a desigualdade social brasileira caiu sem parar. (Em 2013 caiu mais, para 0,495. )

A estabilidade da moeda, conquista dos governos de Itamar e FHC, também ajudou no combate à desigualdade, mas foi nos governos do PT que mais de 30 milhões de pessoas deixaram a pobreza e o Brasil saiu do Mapa da Fome, da ONU. Isso se deu especialmente pelos programas sociais e pelas políticas de investimento que privilegiam emprego e renda.

No segundo turno desta eleição, mais uma vez o confronto se dá entre aqueles que governaram o país e pouco fizeram para diminuir a desigualdade social brasileira e aqueles que agora governam o país e lutam para reduzi-la. Acho que o Brasil não parou de melhorar e não tem motivo para dar meia volta e retornar ao passado. Por isso voto na Dilma.

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A corrupção é um problema grave, faz tempo. Não há nada que indique que a corrupção é maior agora do que antes e há o fato, inquestionável, de que agora ela é fiscalizada, investigada, denunciada, julgada e, em alguns casos até punida, veja que avanço.

Ao ver Aécio Neves exclamar na televisão, com gestos teatrais, que o atual governo está naufragando num “mar de lama”, impossível não lembrar de seu avô, o sábio Tancredo Neves, ministro que se manteve fiel a Getúlio Vargas enquanto o presidente, popular e trabalhista, era fustigado pela direita lacerdista e a imprensa. Ora veja, o neto de Tancredo assumiu a herança do lacerdismo!

Pros jovens: “mar de lama” era o bordão de Lacerda, um golpista profissional de grande talento. Lacerda era um bom jornalista, grande orador, muito culto, traduziu Julio Cesar (de W. Shakespeare), era um canalha brilhante. Aécio não é uma coisa nem outra.

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O desemprego é um problema grave em quase todo mundo, no Brasil não é. Hoje há mais brasileiros nas escolas, nas universidades e a desigualdade de renda diminuiu. Mais educação, emprego e igualdade social significam menos violência, em qualquer lugar. No Brasil, não.

Temos muitos problemas graves mas acho que a segurança pública deveria ser prioritária no próximo governo. Os níveis de criminalidade no Brasil chegaram ao estágio “apavorantes”. Temos 56 mil assassinatos por ano, é mais seguro morar em qualquer zona de guerra do planeta do que no pacífico Brasil.

Emprego, renda, educação, tudo isso diminui a criminalidade, mas leva tempo e o problema da violência é urgente. Uma das funções principais do estado é garantir que o cidadão (eleitor e contribuinte) possa sair para caminhar na rua de sua própria cidade, com sua família, sem ser assaltado ou levar um tiro. Há muitas maneiras de diminuir a criminalidade e parece que o Brasil está precisando urgentemente de todas elas.

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(1) O que você sabe sobre o Turcomenistão?, texto publicado em maio de 1999: