Diz a Folha

por Giba Assis Brasil
em 29 de março de 2016

Matéria da Folha de hoje, não assinada. A manchete: “Comissão de impeachment tem mais acusações de corrupção do que Dilma”. É um dado bem significativo pra se entender o que está acontecendo no Brasil hoje, não?

Mas na verdade a manchete não é bem esta. É assim: “Comissão de impeachment tem mais acusações de corrupção do que Dilma, DIZ JORNAL”. O grifo é meu, mas podia ser da Folha. Que jornal é esse que diz? A Folha, claro? Não, a Folha não diz. Quem diz é o Los Angeles Times. Pelo menos é o que diz a Folha.

Então. O assunto é Brasil. Os dados são da ONG Transparência Brasil - ou seja, públicos. Qualquer órgão de imprensa brasileiro poderia ter somado dois mais dois e publicado esta manchete, se achasse que a informação era importante. Mas quem o fez foi o Los Angeles Times.

A Folha também fez, é verdade. Mas fez depois. E não assinou embaixo. Não se comprometeu com as consequências. A Folha está comprometida com a isenção, não é isso? Pra provar, terminou a matéria com um contraponto bem significativo: “Na semana passada, um editorial da revista britânica ‘The Economist’ pediu a renúncia de Dilma”.

Então tá. Alguns jornais sugerem que a comissão do Congresso que vai julgar o pedido de impeachment talvez não tenha autoridade moral para isso. Mas outros sugerem que, antes mesmo desse confronto, a presidente eleita deveria renunciar. Por que mesmo? Isso a Folha não diz.

Enquanto isso, o “governo dos homens probos” vai sendo montado, para assumir assim que a corrupção seja “definitivamente erradicada do país”. Michel Temer será o presidente, desde que se comprometa a não concorrer em 2018. José Serra será o Primeiro Ministro, ou terá algum cargo equivalente. Gilmar Mendes, chefe da Casa Civil? Renan Calheiros fará a articulação política do governo no Senado. Eduardo Cunha talvez tenha que dar um tempo num cargo de representação em Buenos Aires, ou em algum lugar onde a Interpol não o alcance.

E o Super-Moro, o campeão dos probos, Ministro da Justiça? Afinal, ele merece, depois de todas as desculpas que pediu ao Supremo por ter grampeado e divulgado informações ilegalmente. E, mesmo, porque “o país precisa voltar a crescer” e “os principais objetivos da Lava-Jato já foram alcançados” - ou já terão sido, depois que a presidenta esitver deposta, e que alguns “corruptos de alto escalão” de “todos os partidos” (Lula? Aécio? quem mais?) tenham sido processados e, quem sabe, presos. Como na Itália das “Mãos limpas”, que abriu caminho para 20 anos de Berlusconi.

Mas a Folha ouve os dois lados. E não existem só dois lados.

E o lado bom é que eu já estava louco pra voltar a ser oposição.


COMISSÃO DO IMPEACHMENT TEM MAIS ACUSAÇÕES DE CORRUPÇÃO DO QUE DILMA, DIZ JORNAL
Folha de São Paulo, 29/03/2016 | 10h44


O jornal americano “Los Angeles Times” publicou nesta terça-feira (29) uma reportagem apontando que, dos 65 membros da comissão de impeachment da Câmara dos Deputados, 37 são acusados de vários crimes, como corrupção e lavagem de dinheiro.

O texto indica que, da comissão, cinco membros enfrentam acusações de lavagem de dinheiro, seis de conspiração e 19 de irregularidades contábeis. Trinta e três também enfrentam acusações de corrupção ou de improbidade administrativa. Ao todo, 37 membros foram acusados, alguns com vários crimes.

De acordo com as informações da reportagem, que utilizou dados da ONG Transparência Brasil, dos 513 deputados federais, 303 enfrentam acusações ou são investigados por envolvimento em crimes. No Senado, o mesmo acontece com 49 dos 81 membros.

Os dados não incluem possíveis repercussões da “mais nova granada”, a Operação Lava Jato, lembra o jornal, que ainda cita as planilhas da construtora Odebrecht, divulgada na semana passada, que listam possíveis repasses a mais de 300 políticos.

Mesmo com uma enorme impopularidade e sendo responsabilizada pela crise econômica no Brasil, a presidente Dilma Rousseff, aponta o jornal, nunca foi formalmente investigada nem é acusada de corrupção.

A matéria cita que a petista era a chefe do conselho de administração da Petrobras, estatal alvo da Lava Jato. Para tirá-la do cargo, os legisladores estão contando com pedaladas fiscais.

O jornal explica como funciona o processo de impeachment que, se for votado por dois terços da comissão com 65 deputados federais, será encaminhado para o Senado, que decidirá o destino de Dilma.

Na semana passada, um editorial da revista britânica “The Economist” pediu a renúncia de Dilma.