Educação e justiça social

por Jorge Furtado
em 01 de maio de 2016

Do começo? Os tupis e tupinambás já andava por aqui faz tempo quando os portugueses chegaram, em 1500. Os portugueses tinham armas, germes e aço e tomaram posse do território, começaram a explorar sua colônia e trouxeram da África milhares de escravos. O Brasil se construiu assim, nesta mistura de raças e na exploração do trabalho escravo por uma elite que gosta de viver bem e sabe se defender.

Elite econômica, é bom lembrar, não cultural. A Casa Grande sempre foi iletrada e custou muito a fazer universidades por aqui. A universidade de São Domingos é de 1538, a de São Marcos, no Peru, de 1551. Quando Harvard, a primeira universidade norte-americana foi criada em 1636, a América espanhola já tinha 13, mas o Brasil teve que esperar até o século XIX para ter sua primeiras academias, e até o século XX para ter sua primeira universidade. E não foi para atender os nativos, é claro. Quando a família real portuguesa veio para cá, em 1808, o Marques de Pombal criou as escolas médicas na Bahia e no Rio. O governo brasileiro só foi fazer sua primeira universidade em 1920, no Rio de Janeiro, não faz nem cem anos. E isso, muita gente defende a tese, só porque foi pressionado pela urgência de conceder um título de Doutor Honoris Causa ao Rei da Bélgica, em visita ao país.

Fomos a última nação do ocidente a abolir a escravatura (1888). Karl Marx já estava morto (1885), a industrialização europeia e americana explodindo com suas máquinas, telégrafos e motores a gasolina e nós, brasileiros, continuávamos escravizando e chicoteando seres humanos. Eles eram transportados da África para cá em galeras com nomes sádicos, como o “Boa intenção”, de bandeira portuguesa, que fez duas travessias de Angola para o Brasil trazendo 845 escravos. No caminho morreram 76, era a média, em torno de 10% de perdas numa viagem de 50 dias.

Nossa abolição que, ao contrário da americana, jogou os escravos na rua sem um pedaço de terra, casa ou qualquer chance de sobrevivência digna, fundou aqui a república mais desigual do planeta. Em nenhum lugar do mundo há tanta diferença entre os ricos, que governam e vivem muito bem, e os pobres, que trabalham muito e vivem muito mal. No Brasil, o 1% mais rico tem 1/4 de toda a riqueza, os 90% mais pobres tem apenas 1/3.

Não acredito que vamos sair um dia desta condição degradante de país mais injusto do planeta sem educação pública de qualidade e sem que a nossa riqueza, que é imensa, seja distribuída de forma mais justa, com taxas progressivas de imposto de renda, com impostos justos sobre herança, lucro e renda, combate à sonegação e aos paraísos fiscais, com punição aos sonegadores. Sem isso, continuaremos sempre um país de senhores e escravos.

xxx

Lista com nomes de navios negreiros escancara cinismo dos comerciantes de seres humanos no Oceano Atlântico - Geledés:

Sobre a desigualdade brasileira: