Representação da homossexualidade no cinema RS

por Giba Assis Brasil
em 09 de maio de 2016

(mensagem para Fabiano de Souza 09/05/2016)

Fora os filmes baseados em Caio Fernando Abreu (“Sargento Garcia”, “Aqueles dois”), onde mais o cinema do Rio Grande do Sul, no século passado, chegou a transgredir a heteronormatividade? Certamente na obra do Sérgio Silva.

Pois é, a homossexualidade parece que tá o tempo todo presente nos filmes do Sérgio, mas quase sempre invisível: a luta de facão em “Festa de casamento”, a relação das duas senhoras em “Frau Olga, Fräulein Frida”, a maneira como ele filma o corpo masculino…

Também é sutil, mas tem uma clara relação homossexual em “Anahy” (1997), entre o filho Teo (Cláudio Gabriel) e o soldado farrouplha (Matheus Nachtergaele), que saem juntos para a guerra e depois são encontrados por Anahy, mortos e abraçados, numa pose “pietá”.

“A divina pelotense” é um caso à parte. É uma história de amor entre um jovem rico e uma ex-cantora lírica, que termina morta pelo pai do garoto. Se não me engano, baseado numa história real que ocorreu em Pelotas na primeira metade do século passado (anos 20? anos 40?). O dado gay é que a cantora, Magdalena Montezuma, é interpretada por um ator, Antônio Carlos Brunet (o “Dunga”, mas não o da seleção), e a figura é claramente masculina - fora as roupas e perucas.

Além do Sérgio, e sempre pensando no século XX, onde mais?

Em “Meu primo” (1979), o primo (Pedro Santos) conta pro recém chegado que sobreviveu na cidade fazendo sexo por dinheiro com homens mais velhos.

No “Coisa na roda” (1982) tem o cara mais velho, Alfredo (Sérgio Horst), que vem morar com a turma, chega a acariciar o Ricardo (Pedro Santos) quando ele tá dormindo, e depois se agarra com seu amigo Victor (Ney Laux).

“Amor perfeito” (super-8 de 1983, dirigido pelo Tonho Corazza) tem cenas de sexo entre as personagens da Nora Prado e da Amanda Costa.

No “Temporal” (1984) a dona da casa Sra. Arcanjo (Izabel Ibiais) é seduzida por um convidado fantasiado de coelho, que depois se revela ser uma mulher (Lisa Becker), mas isso é tão sutil que ninguém notou.

Em “Madame Cartô” (1985), o personagem do Pedro Santos é descoberto em travesti, levando chicotadas de uma dominatrix (Luciene Adami) num bordel.

Em “Aulas muito particulares” (1988), as duas professoras (Nora Prado e Luciana Tomasi) chegam a transar na frente do aluno (Edu K).

Em “A coisa mais importante da vida” (1989), o marido (José Baldissera) contrata um assassino para matar a esposa (Marley Danckwardt), após ter descoberto que ela o traía com outra mulher (Haydée Porto).

“Signos” (curta em 35 mm de 1989, dirigido pelo Luis Cabrera, chegou a passar em Gramado) é a história do rompimento de um casal de mulheres (Ana Bach, Gina Tochetto). Mas eu lembro muito pouco do filme.

Tenho a impressão de que, em “Depois chegou o terror” (vídeo de 1984 dirigido pelo Renato Pedroso Jr), as personagens de Carolina Gonçalves e Roseline Bauman são amantes, mas desse eu lembro menos ainda.

“O papa é gaúcho” (1981) tem sérias insinuações… não, tou brincando.

Mas até que não é tão pouco.