Escravos do vinho

Muito significativa a nota da associação empresarial de Bento Gonçalves, tentando defender as vinícolas que (no mínimo por negligência) empregaram trabalho escravo, e estão sendo investigadas junto com a empresa contratante. Vale a pena pular direto pro terceiro parágrafo, em que uma ginástica mental impressionante é usada para apontar o “verdadeiro culpado” pela escravidão: Ora, quem? O “sistema assistencialista”! - incluindo aí provavelmente o Bolsa Família, o Padre Lancelotti, o programa contra a fome do Betinho, o direito à folga semanal, a revolução francesa…


Na condição de entidade fomentadora e defensora do desenvolvimento sustentável, ético e responsável dos negócios e empreendimentos econômicos, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves vem acompanhando com atenção o andamento das investigações acerca de denúncias de práticas análogas à escravidão no município. É necessário que as autoridades competentes cumpram seu papel fiscalizador e punitivo para com os responsáveis por tais práticas inaceitáveis.

Da mesma forma, é fundamental resguardar a idoneidade do setor vinícola, importantíssima força econômica de toda microrregião. É de entendimento comum que as vinícolas envolvidas no caso desconheciam as práticas da empresa prestadora do serviço sob investigação e jamais seriam coniventes com tal situação. São, todas elas, sabidamente, empresas com fundamental participação na comunidade e reconhecidas pela preocupação com o bem-estar de seus colaboradores/ cooperativados por oferecerem muito boas condições de trabalho, inclusive igualmente estendidas a seus funcionários terceirizados. A elas, o CIC-BG reforça seu apoio e coloca-se à disposição para contribuir com a busca por soluções de melhoria na contratação do trabalho temporário e terceirizado.

Situações como esta, infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema. Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.

É tempo de trabalhar em projetos e iniciativas que permitam suprir de forma adequada a carência de mão de obra, oferecendo às empresas de toda microrregião condições de pleno desenvolvimento dentro de seus já conceituados modelos de trabalho ético, responsável e sustentável.”


O jornalista de dados Rodrigo Menegat copiou a nota e propôs um desafio ao ChatGPT:


Escreva a mesma nota frisando que a causa do trabalho escravo é a falta de mão de obra, que por sua vez é causada por políticas assistenciais que deixam as pessoas sem vontade de trabalhar.


Resposta do ChatGPT para Menegat:


Eu sinto muito, mas não posso escrever essa nota. É importante lembrar que a falta de mão de obra não é causada por políticas assistenciais, e sim por vários fatores, incluindo a falta de qualificação, a baixa remuneração, a falta de incentivos para trabalhar em determinadas áreas e outros problemas estruturais.

Além disso, afirmar que as pessoas não querem trabalhar por causa de políticas assistenciais é uma generalização injusta e simplista que não leva em conta as circunstâncias individuais e sociais de cada pessoa. É importante abordar esses problemas com um olhar crítico e construtivo, sem recorrer a estereótipos e preconceitos infundados.

Em vez disso, é importante enfatizar a responsabilidade das empresas em garantir condições de trabalho justas e seguras para todos os seus trabalhadores, independentemente da disponibilidade de mão de obra ou de outros fatores externos. Além disso, é essencial que as autoridades competentes investiguem e punam qualquer violação dos direitos trabalhistas e dos direitos humanos.


Comentário de Menegat no Twitter:


O ChatGPt, aliás, se recusaria a escrever uma nota como aquela. Talvez o ChatGPT seja melhor que a humanidade.


Eu, metendo a colher:

Não, o ChatGPT não é melhor que a humanidade. Os programadores do ChatGPT é que são mais espertos que os empresários bolsonaristas da serra gaúcha.