Temporal, 40 anos

Marcelo Lopes (1952-1991) na claquete, Christian Lesage ao fundo, Jorge Furtado quase saindo de quadro, no 6º dia de filmagem de TEMPORAL


No dia 5 de fevereiro de 1984, há exatos 40 anos, eu entrei pela primeira vez num set de filmagem. Eu e o José Pedro Goulart dividíamos a direção do nosso primeiro curta-metragem, 35mm, filmado com uma bela Arri2C, com ela faríamos muitos outros filmes. Eu já trabalhava na televisão há 2 anos, mas nunca nem tinha visto uma câmera de cinema quando entrei no set. Entrei num set é maneira de dizer: o set é que invadiu minha sala, a locação era minha própria casa.

“Temporal” é baseado num conto de Luis Fernando Veríssimo, que cometeu a imprudência de ceder a história a um bando de jovens com muita energia e nenhuma experiência. A produção é da “Luz Produções”, empresa cinematográfica recém criada, com quatro sócios: José Pedro Goulart, Ana Azevedo, Marcelo Lopes e eu. Acredite ou não, até rifa de torradeira nós fizemos para conseguir dinheiro pro filme. O que resolveu mesmo foi o patrocínio da Ipiranga, autorizado pela palavra de Carlos Alberto Rabaça (autor do Dicionário de Comunicação do Pasquim, que em 83 cuidava do marketing da empresa), que se comoveu com nossa empolgada precariedade e, claro, com o conto do Veríssimo.

Aluguei a casa para morar e, antes mesmo de me mudar, usei como locação. A história inclui um festa a fantasia que varou a noite e termina em grossa pancadaria. Você pode imaginar o que meus novos vizinhos pensaram ao ver um jacaré, uma abelha e um tigre se engalfinhando às 4 da manhã.

No festival de Gramado, em 1984, “Temporal” ganhou o Kikito de Melhor Direção de Curta Gaúcho, embora, na minha opinião, a direção é o que o filme tem de - sejamos gentis com o passado - menos bom. O FestRio fez ainda pior: nos deu os prêmios de Melhor Filme e Direção.

Fotografia, produção, elenco, o curta tem muitas qualidades, mas eu acho que nós, por excesso de fidelidade e inexperiência, não fizemos muito bem ao conto, que é ótimo. Nosso próximo filme, “O Dia em que Dorival encarou a guarda” (1986), é bem melhor, mas a primeira claquete, o primeiro “câmera… ação!”, a gente nunca esquece.

Nestes quarenta anos, muitos dos amigos que estão nos créditos já se foram, outros continuam por aqui, fazendo filmes, teatro, televisão. Seguem os créditos completos e link para ver “Temporal”. Como diz um dos personagens do filme, “respeito é a puta que te pariu!”

TEMPORAL

ASSISTIR NO VIMEO

ELENCO
Biratã Vieira (Francisco Arcanjo)
Izabel Ibias (Sra. Arcanjo)
Xala Felippi (Teresa)
Márcia Erig (Rita)
Luis Carlos Magalhães (Costa)
Ivo Bender (Comendador)
João Antônio Cirne (Doutor)
Breno Ruschel (Orvelho)
José Salimen Júnior (Lorange)
Carlos Cunha Filho (General)
Lisa Becker (convidado 1)
Marcos Breda (convidado 2)
Wander Wildner (convidado 3)
Cleide Fayad (convidado 4)
Zeca Kiechaloski (convidado 5)
Carlos Freire (convidado 6)
Marco Antônio Sorio (convidado 7)

EQUIPE
Direção: Jorge Furtado
/ e José Pedro Goulart
Argumento: baseado no conto “Temporal na Duque”
/ de Luis Fernando Verissimo
Roteiro: Jorge Furtado
/ José Pedro Goulart
/ Ana Luiza Azevedo
/ Marcelo Lopes
Direção de Produção: Rosana Orlandi
/ e José Salimen Júnior
Direção de Fotografia: Christian Lesage
Montagem: Giba Assis Brasil
Direção de Arte: Lordsir Peninha
/ Jailton Moreira
/ Teresa Poester
Assistente de Direção: Ana Luiza Azevedo
Animação: Geraldo Leonetti
Assistente de Câmara: Alex Sernambi
Mixagem: Roberto Carvalho
Eletricistas: Júlio Spier
/ Luis Maria Casabón
Continuidade: Marcelo Lopes
Operador de vídeo: Valério Azevedo
Assistentes de Produção: Betty Perrenoud
/ Cláudia Cabreira

Filmado em Porto Alegre, de 5 a 12 de fevereiro de 1984.
Estreou no Festival de Gramado, 12 de abril de 1984. 12/04/1984