Deu pra ti anos 70

(Super-8 mm, 108 min, cor, 1981)

(janela 1.33, som magnético mono)

Foto por Nelson Nadotti: Pedro Santos e Ceres Victora

Histórias da década de 70, contadas do ponto de vista de quem despertou para o mundo no período. Ao longo de 10 anos, Marcelo e Ceres encontram-se e desencontram-se em reuniões dançantes, bares, cinemas, universidades e acampamentos. Na noite de ano novo de 1980, eles ainda têm motivos para sonhar, agora juntos.

Créditos

Direção: Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil

Produção Executiva: Nelson Nadotti e Giba Assis Brasil
Roteiro: Giba Assis Brasil, Nelson Nadotti e Alvaro Luiz Teixeira
Direção de Fotografia: Nelson Nadotti
Música: Nei Lisboa e Augusto Licks
Montagem: Nelson Nadotti
Assistente de Direção: Carlos Gerbase e Hélio Alvarez

Distribuição: Casa de Cinema PoA

Elenco Principal:
Pedro Santos (Marcelo)
Ceres Victora (Ceres)
Deborah Lacerda (Margareth)
Júlio Reny (Fred)

Prêmios
  • 5º Festival Nacional de Cinema Super 8, Gramado, 1981:
    Melhor Filme.
  • Prêmio João de Barro da Secretaria Municipal de Turismo, Porto Alegre, 1982.
  • 7º Super Festival Nacional de Cinema Super 8 do Grife, São Paulo, 1981:
    Hors Concours.
Crítica

“DEU PRA TI ANOS 70 veio para sacudir o panorama da atual cultura cinematográfica gaúcha. Mesmo se tratando de um filme realizado em Super 8, poderá ser assistido como qualquer filme numa sessão comum de cinema. Como filme, equivale a um de seus personagens, Margarete, uma garota um tanto quanto fora dos esquemas, burguesa e anarquista, cujo posicionamento pode ser contestado por uma crítica mais desapaixonada. Mas que não se pode deixar de amar quando levado pela emoção.”
(Tuio Becker, FOLHA DA TARDE, Porto Alegre, 04/04/81)

“Um retrato dos artistas quando bem jovens, entre o bom humor e a falta de perspectivas, entre a cultura e o sentido prático, entre o susto e a euforia, entre a alegria e a decepção.”
(Goida, ZERO HORA, Porto Alegre, 13/05/81)

“Quando topamos com uma fita da qualidade de DEU PRA TI ANOS 70 conseguimos realmente captar o sentido da expressão ‘arte popular’. é aquela que fala do povo, das pessoas, e que sabe como fazê-lo, não precisando se valer de ingenuidades para comover, para fazer rir e para fazer pensar.”
(Hélio Nascimento, JORNAL DO COMÉRCIO, Porto Alegre, 13/05/81)

“É impossível deixar de vibrar com os adolescentes que aparecem na tela, com seus sonhos, suas desilusões, seus dramas - e a sua cômica simplicidade (uma coisa ao gênero de, digamos, O VERÃO DE 42 ou AMERICAN GRAFITTI). Mais: é um filme sobre Porto Alegre, sobre o Rio Grande, nossa gente, nossa gíria. E isto, numa cidade e num estado que simplesmente não conseguem preservar seus valores culturais, é da maior importância.”
(Moacyr Scliar, ZERO HORA, Porto Alegre, 25/05/81)

“Os que descobriram o mundo na agitação mais óbvia dos anos 60 apressaram se em rotular negativamente a década passada. Mas, enquanto ela durou, outras pessoas compreenderam mistérios, modificaram se, viveram. Sem ufanismos nem modéstia excessiva, esses jovens gaúchos estão contando o que sucedeu a eles com saudáveis doses de humor, de crítica e de sensibilidade cinematográfica.”
(Edmar Pereira, JORNAL DA TARDE, São Paulo, 27/06/81)

“Os diretores souberam misturar na medida certa o regionalismo (o sotaque gaúcho dá ao filme um charme particular) e influências externas (homenagens a Fellini e Lelouch, especialmente o seu ‘Toda uma vida’). Se for bem analisada, a estrutura do filme é extremamente complexa, dispensando os flash backs tradicionais para apresentar situações fragmentadas em épocas diferentes, usando como fio condutor um casal (Ceres e Marcelo) desde quando são meros conhecidos até descobrirem que se amam.”
(Rubens Ewald Filho, O ESTADO DE SÃO PAULO, 27/06/81)

“O que comove o espectador - o jovem e o adulto - de DEU PRA TI ANOS 70 é o fato de não se pretender dar a palavra final a respeito de alguma coisa. A jovem equipe soube fazer o que é fundamental em arte: ter sinceridade, buscar a expressão de si próprio, permitir que o espectador (o interlocutor da obra) posicione-se livremente sobre o que vê. (…) Não é todo dia que a juventude brasileira reencontra sua própria voz para expressar-se.”
(Antônio Hohlfeldt, CORREIO DO POVO, Porto Alegre, 14/01/82)

“Talvez seja um fato único na história do cinema mundial. Um filme em super-8 - bitola mais comum em casamentos e batizados do que em grandes obras cinematográficas - representou, para toda uma geração de cineastas gaúchos surgida nos anos 80, o que ‘Roma, cidade aberta’ foi para os neo-realistas, ‘Acossado’ para a Nouvelle Vague, ‘Rio 40 graus’ para o Cinema Novo. Com o explícito título DEU PRA TI ANOS 70 e uma história que flagrava com muita criatividade e olho jornalístico o cotidiano da juventude de Porto Alegre na virada dos 70 para os 80.”
(Hugo Sukman, O GLOBO, Rio de Janeiro, 30/05/1999)

“Pra quem é da época, é um mergulho no tempo. Crises de adolescência e juventude, manhas de linguagem (foi este o filme que deu o Grito de Independência do porto-alegrês como língua digna de ser pronunciada na arte), dilemas da época (a famosa e decisiva passeata de 23 de agosto de 1977 está lá, numa seqüência criativamente filmada com fotografias).”
(Luis Augusto Fischer, ABC DOMINGO, 16/12/2001)

“DEU PRA TI ANOS 70 constitui experiência singular na história do cinema brasileiro. É um dos melhores momentos de nossa produção juvenil. (…) Em torno de Marcelo e Ceres, amigos que se amam em silêncio, gravitam jovens que torcem pelo Inter (o filme abre-se em festa comemorativa do tricampeonato colorado - 1969/71), falam de sexo, freqüentam festinhas (cheias de bocomocos, gíria da época) e praias pouco ensolaradas para nossos padrões, preparam-se para o vestibular. (…) Ver o filme, com sua narrativa fragmentada, emotiva e sincera, é reencontrar atores e técnicos que povoaram os créditos dos filmes gaúchos nos anos 80 e 90.”
(Maria do Rosário Caetano, O ESTADO DE SÃO PAULO, 27/01/2002)

“Além de mostrar o caminho dos jovens em busca de um lugar, o filme também aborda o conflito de gerações. (…) Trata os pais quase sempre com ironia, ressaltando que a caretice não impede que a juventude faça o que quiser: a mãe de Sônia manda baixar o volume do som na festa, mas logo depois a música fica alta; a mãe de Ceres quer levá-la na rodoviária, mas ela não deixa, principalmente porque esconde que vai de carona. (…) A relação falha entre pais e filhos pode espelhar de certa forma a ruptura entre os ‘jovens cineastas da bitola nanica’ e o passado cinematográfico gaúcho, mais precisamente o cinema predominante no início da década de 70, basicamente Teixeirinha.”
(Fabiano de Souza, revista TEOREMA nº 1, Porto Alegre, agosto/2002)

“O que há de especial em DEU PRA TI ANOS 70? Talvez seja esse momento inexplicável em que caímos no truque do mágico, em que a suspensão da descrença se dá de forma mais aguda, esse ponto em que acreditamos na verdade da mentira e nos parece que a ficção encontrou a realidade – ou melhor, faz parte dela integralmente. (…) Mais do que a história do amor de Ceres e Marcelo ao longo de dez anos, DEU PRA TI pretende olhar para toda a década que os personagens viveram. Dessa forma, o filme nos transmite a sensação de ser parte integrante do momento que retrata e consegue manter deste momento uma atmosfera e um calor únicos.”
(Daniel Caetano, revista virtual CONTRACAMPO, janeiro/2003)

“Em 1981, o longa-metragem DEU PRA TI ANOS 70, rodado em Super 8 pelos diretores Giba Assis Brasil e Nelson Nadotti, arrebatou crítica, e considerável público, com sua narrativa sobre encontros e desencontros da incipiente juventude urbana de Porto Alegre. O filme tinha participações de artistas como Júlio Reny (Expresso Oriente), Augusto Licks (Engenheiros do Hawaii) e Wander Wildner (Os Replicantes), desbravadores da falecida sigla outrora conhecida como rock gaúcho. Quase 30 anos depois, Deu Pra Ti Anos 70 ainda é raro exemplo de pop fiction feita no Brasil.”
(Cristiano Bastos, O ESTADO DE SÃO PAULO, 17/04/2010)

Tema musical

“A tribo toda em dia de festa”, de Nei Lisboa; intérpretes: Nei Lisboa e Augusto Licks

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