Quem é Primavera das Neves

(HD, 75min, cor, 2017)

(janela 1.77, som Dolby 5.1)

Foto de arquivo: Primavera das Neves

O ponto de partida é um nome improvável, Primavera das Neves, tradutora de Lewis Carroll, Daniel Defoe e Julio Verne, que na década de 1960 desapareceu sem deixar rastros. Seria um pseudônimo? A busca de um nome encontrou uma mulher extraordinária, uma vida dedicada à beleza e à verdade, são irmãs. E então chegou uma carta avisando que a história estava só no começo.

Créditos

Direção: Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado

Roteiro: Jorge Furtado e Pedro Furtado
Produção Executiva: Nora Goulart
Direção de Fotografia: Alex Sernambi, AGC
Montagem: Giba Assis Brasil
Som direto: Rafael Rodrigues
Direção de Produção: Bel Merel
Trilha Original: Maurício Nader
Pesquisa: Lilian Ferrari e Joana Bernardes
Desenho de Som: Kiko Ferraz Studios

Produção: Casa de Cinema PoA
Coprodução: Globo Filmes

Crítica

“A narrativa é conduzida pouco a pouco pela dupla de cineastas, revelando surpresas a cada momento. O depoimento de [Eulalie] Ligneul, a quem foram confiados os documentos de Primavera após sua morte, mostra uma personagem preocupada com a perpetuação da memória e em honrar seus mortos. (…) Primavera é uma personagem que os diretores constroem em pequenos detalhes (ora comoventes, ora engraçados) -mas cuja história também é construída na ausência de informações. É um aviso ao espectador de que a memória é feita em iguais partes de lembrança e esquecimento.”
(Maurício Meireles, Folha de S Paulo, 24/04/2017)

“O que norteia Furtado - o que norteou Primavera - talvez seja uma frase de Sara/Glauce Rocha para Paulo Martins/Jardel Filho em Terra em Transe: (…) ‘A política e a poesia são demais para uma só pessoa.’ Primavera das Neves escolheu a poesia e a vantagem de trabalhar com o audiovisual, para Furtado, é que, no macro e no micro, na TV e no cinema, ele toca, por momentos, essa aspiração difícil, mas não impossível - a poesia e a política. Seu projeto, digno de Vianninha, talvez seja rasgar o coração do público com essas vidas tão distintas, mas que valem a pena. Todas. No caso de Primavera, ele produziu memória.”
(Luiz Carlos Merten, Estadão 15/06/2017)

“Furtado - que divide a direção com Ana Luiza Azevedo (…) - se expõe no filme, com a ajuda e a cumplicidade da atriz Mariana Lima. Longe de ser mero exercício de egocentrismo, a transparência é plenamente justificada. Eduardo Coutinho dizia que um documentário consiste em um filme sobre uma equipe de filmagem que procura se aproximar de algo, e não em um filme sobre algo. Pois QUEM É PRIMAVERA DAS NEVES estrutura-se como um filme em torno da curiosidade e da busca de Furtado por informações sobre a personagem-título.”
(Sérgio Rizzo, O Globo 14/06/2017)

“Através do fio de vida de um personagem, inevitavelmente arrastam-se as contingências históricas da sua trajetória. Nesta, temos a curiosa mescla de uma vida inteligente, levada na delicadeza da literatura, da música, da amizade, da escrita poética, mas também enfrentando contingências políticas de ditaduras em dois países, exílios, mudanças bruscas e inesperadas de direção. A forma como o material é captado expressa a inteligência, a capacidade dos diretores em ir ao essencial. A maneira como é montada dá ao filme o tom de um thriller gentil envolvente. Não deixe de ver.”
(Luiz Fernando Zanin Oricchio, Estadão, 24/04/2017)

“O filme se recusa a procurar o explícito. Registra a atitude da amiga que se nega a entrar em detalhes sobre a decisão da personagem em não voltar para Portugal. A citação de La strada pode ser um indício, mas nada fica claro em tal terreno. Não é uma lacuna, e sim uma ênfase na complexidade. E, ao mesmo tempo, também, um apelo à imaginação do espectador. O mais interessante de tudo é a reconstituição da vida de uma mulher através dos sinais deixados pelo trabalho e por sua atuação como ser humano.”
(Hélio Nascimento, Jornal do Comércio, 23/06/2017)

“Como Jorge aparece em partes substanciais do filme, parte da ‘divisão de trabalho’ entre ele e Ana Luiza foi que ela o dirigiria em cena. Jorge ouve os depoimentos sobre Primavera e depois reconstrói seus passos, no Brasil e em Portugal. Mais do que um filme sobre poesia e tradução, o que também é, Primavera das Neves é um filme que parte de um preceito caro a muitas das boas biografias, a de que os entrecruzamentos de algumas vidas são boa matéria-prima para reconstituir a história de um período.”
(Carlos André Moreira, Zero Hora, 14/06/2017)

“Para além da figura particular de ‘Vera’, o filme se abre como uma doce reflexão sobre a tradução, as línguas, o exílio e a nacionalidade. Nada é exposto como tese, mas embutido naturalmente no ato de evocar uma vida através das suas entrelinhas. Nisso Furtado e Ana Luiza confirmam uma inteligência - e também um humor - já bem conhecidos de seus trabalhos anteriores. Os tantos encontros afetuosos que se dão em torno de Primavera das Neves fazem desse filme uma joia irretocável.”
(Carlos Alberto Mattos, blog, 22/04/2017)

“Mais do que história de uma tradutora, [o filme] é uma homenagem à língua portuguesa. São as leituras de Mariana [Lima] que nos conduzem a uma antiga questão da literatura: até que ponto a beleza de um texto depende do talento do tradutor? A dúvida não é exposta assim, explícita. Não se trata de um filme de tese. Pelo contrário. Como nos melhores trabalhos de Furtado, (…) QUEM É PRIMAVERA DAS NEVES dá aparência de ligeireza a uma trama de camadas diversas. Na obra dele, um cineasta da palavra, em geral mais afeito aos diálogos que às imagens, a leveza definitivamente não se confunde com a banalidade.”
(Naief Haddad, Folha de São Paulo, 16/06/2017)

“Mais do que estender um varal histórico erguido a partir da vida de uma poeta e artesã da tradução que viveu entre o Brasil e um Portugal salazarista, vivendo de palavras, Furtado abre, com o cinzel de Ana Luiza e a leitura recitativa de Mariana, um debate sobre a dimensão estética da tradução não como ponte entre línguas, mas como um saber. Talvez seja o mais rico documentário sobre a prática literária desde José & Pilar (2010), de Miguel Gonçalves Mendes.”
(Rodrigo Fonseca, Estadão, 25/06/2017)

“Primavera Ácrata Saiz das Neves é uma mulher que enfrentou o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe do século XX. (…) Teria permanecido anônima, não fosse a obstinação de arqueólogo de Furtado e Azevedo, que, intrigados com o nome da tradutora de Alice no País das Maravilhas, desencavaram sua preciosa história.”
(Fernanda Torres, Veja Rio, 17/07/2017)

“Outro registro é a presença de Mariana Lima lendo cartas e poemas de Primavera, trechos de traduções e por vezes conversando com Furtado. O tom delicado e perspicaz da leitura, aliado à fisionomia semelhante com a “biografada” provocam uma espécie de imersão íntima do espectador no filme. Um ponto a mais.”
(Ivonete Pinto, Blog Calvero, 01/05/2017)

“O mais interessante é que mesmo com tantas peças, informações, os poemas a relação com a arte em geral, juntas, conseguem estabelecer uma relação próxima pela sensibilidade, mas também cria algo de impenetrável. Parafraseando Roberto Carlos, sabemos de sua vida e do seu passado, de um tempo perdido e recuperado… mas quem é Primavera das Neves?”
(Henrique Artuni, blog Bastidores, 24/04/2017)

“Enquanto boa parte dos diretores preferiria adotar uma abordagem didática e cronológica da vida de Primavera, Furtado e Azevedo tomam a coerente decisão de enxergá-la através das lentes (muitas vezes embaçadas) dos óculos daqueles que a conheceram em vida, construindo uma figura que é simultaneamente concreta e mítica, humana e romantizada.”
(João Marcos Flores, blog Cineviews, 24/04/2017)

“O documentário de Furtado, painel da vida intelectual no Rio daquele período, que vai se revelando por meio da história singular de Primavera, não teria a mesma emoção sem a delicadeza e a generosidade da amiga Eulalie, que nunca a esqueceu. E sendo assim, o filme de Furtado não nos oferece apenas um perfil de uma mulher que viveu intensamente o seu tempo, sem se esquivar de atitudes e comportamentos considerados avançados para a época, mas também o da importância da amizade entre duas mulheres que possuíam uma enorme afinidade intelectual.”
(Luiza Lusvarghi, Blog Femme Fatale, 15/06/2017)

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