Mudanças na Casa

CASA DE CINEMA DE PORTO ALEGRE COM MENOS DOIS
Carlos Gerbase e Luciana Tomasi deixam a produtora depois de 24 anos
Marcelo Perrone
Zero Hora, Segundo Caderno, 14/10/2011 | 08h10min

Amizade, trabalho e casamento são relações que tendem a ser infinitas enquanto duram. Quando esses elementos convivem sob o mesmo teto, parece ser ainda mais complicado harmonizá-los. A Casa de Cinema de Porto Alegre, uma das mais premiadas produtoras audiovisuais do país, tinha a peculiaridade de ser administrada por três casais, seis amigos de longa data. Agora, não mais. Carlos Gerbase e Luciana Tomasi, sócios fundadores da Casa de Cinema, em 1987, estão de mudança.

Gerbase e Luciana, a Luli, acabam de fundar a Prana Filmes, produtora que tem no horizonte projetos para cinema, televisão e a programação de uma das mais importantes salas de exibição do circuito alternativo da Capital, o Cine Santander. Na Casa de Cinema, seguem os casais Jorge Furtado e Nora Goulart e Giba Assis Brasil e Ana Luiza Azevedo.

Todos os envolvidos garantem que foi um decisão dolorosa, mas inevitável diante da mecânica de trabalho que se estabeleceu nos últimos anos na Casa de Cinema e das diferenças criativas. Gerbase, por exemplo, tem se dedicado nos últimos anos a projetos de menor orçamento realizados no suporte digital - como 3 Efes, lançado simultaneamente no cinema, na TV, na internet e em DVD, e como dever ser também Menos que Nada, seu próximo longa, em finalização. Gerbase diz:

-- A Casa de Cinema marcou nossas vidas e temos orgulho de tudo o que fizemos, mas chegou o momento de procurar um novo caminho. Após tantos anos de convivência, os interesses já são diferentes, as propostas estéticas se distanciaram e não estamos mais conseguindo tocar o trabalho de forma coletiva. A separação foi natural e será boa para todos.

Jorge Furtado complementa:

-- Foi uma decisão amadurecida já havia algum tempo. No decorrer dos anos, foi ocorrendo naturalmente uma divisão de trabalhos. O Giba monta todos os meus filmes, a Ana é minha parceira no set. Temos um estilo de trabalhar mais afinado. Sempre preservamos a liberdade criativa para cada um tocar seus projetos. Estamos com uma produção crescente, e o Gerbase não estava mais tomando parte neste tipo de projeto.

A Casa de Cinema foi fundada em 1987 como uma cooperativa de 11 realizadores, entre eles nomes que fincaram os marcos do novo cinema gaúcho, no começo dos anos 1980, como Giba, Gerbase e Werner Schünemann. Em 1989, Furtado obteve reconhecimento mundial com o curta Ilha da Flores. Em 1991, a Casa de Cinema passou a ser tocada pelos três casais. Foi o início da fase de projeção nacional da produtora, realizando trabalhos para a Globo - de episódios para séries como Comédia da Vida Privada (1997) a minisséries como Cena Aberta (2003) - e seus primeiros grande projetos para o cinema, com os longas Tolerância (2000), de Gerbase, e Houve uma Vez Dois Verões (2002), de Furtado. Gerbase fez ainda Sal de Prata (2005) e 3 Efes (2007). Furtado lançou O Homem que Copiava (2003), Meu Tio Matou um Cara (2004) e Saneamento Básico (2007). Ana Luiza estreou em longas com Antes que o Mundo Acabe (2010).

Casa de Cinema e Prana Filmes continuarão interligados na figura de Giba Assis Brasil, montador dos mais requisitados. Parceiro de Gerbase no longa Verdes Anos (1984), Giba montou Menos que Nada e está confirmado em novos trabalhos da Prana.

-- Fico triste - admite Giba. - São os percalços de uma relação que se desgasta, mas tem de continuar. Foi a melhor solução para todo mundo. Somos amigos de muito antes da Casa de Cinema, conheci a Luli antes de conhecer a minha mulher. Vamos continuar a trabalhar juntos, como trabalho em projetos para outras produtoras. É só mais uma mudança na casa.