ZH publica crítica do romance "Todos morrem no fim"

O blog “Mundo livro”, do jornalista Carlos André Moreira, da editoria de Cultura do jornal Zero Hora, exibe a primeira crítica do romance “Todos morrem no fim”, de Carlos Gerbase.


GERBASE FAZ PREMIÈRE NA FICÇÃO POLICIAL
Carlos André Moreira
Zero Hora, 04/11/2010

Duas jornadas por entre crimes e mentiras correm em paralelo para compor Todos Morrem no Fim, (Sulina, 300 páginas, R$ 42) romance policial que o escritor e cineasta Carlos Gerbase autografa às 20h30min de hoje na Feira do Livro na Praça de Autógrafos da Feira.

A obra alterna a investigação policial que tenta desvendar um estupro seguido de tentativa de homicídio com o relato de um jovem que se vê envolvido em uma operação policial clandestina para tirar do país dois uruguaios suspeitos de terrorismo.

Na primeira parte da história, Isabel, uma jovem professora de uma universidade particular fictícia localizada em Sapucaia do Sul é violentamente atacada por um misterioso agressor que a violenta e agride com golpes quase fatais na cabeça. A investigação vai parar no colo do investigador Otávio, policial da 3ª Delegacia da cidade metropolitana - um gordo de meia-idade, desleixado e bêbado. A negligência do investigador com o próprio corpo, contudo, não reflete sua determinação profissional em elucidar o caso, investigando, para isso, ligações escusas no passado dos professores da universidade.

Em paralelo, Gerbase entretece a história de um jovem advogado recém-formado, filho de um militar do serviço de inteligência que pede ajuda ao filho e à secretária para colaborar no transporte de dois supostos subversivos uruguaios, presos pela polícia em companhia dos filhos de uma das suspeitas. A história é declaradamente inspirada no sequestro dos uruguaios Lilian Celiberti e Universindo Díaz durante o regime militar - e embora Gerbase marque de forma sutil essa diferença, o leitor perspicaz não deixa de notar que as histórias estão separadas no tempo - e o elo entre as duas é uma das reais e boas surpresas narrativas conseguidas pelo romance, que reserva ainda um bom número de reviravoltas passíveis de serem decifradas umas boas páginas antes se o leitor estiver atento.

A obra está saindo pela coleção Flores do Mal, da editora Sulina, pela qual já havia sido publicado o delirante misto de suspense e ficção científica Raízes do Mal, do francês Maurice Dantec. Embora a narrativa das duas tramas paralelas se mostre a princípio um tanto truncada e demore algumas páginas a engrenar, quando a história deslancha o romance se transforma em uma ágil síntese das obsessões já demonstradas por Gerbase ao longo de sua carreira como ficcionista.

O tom rascante da narrativa policial e a obsessão pelo sexo como elemento central da psiquê de alguns personagens já haviam aparecido nos primeiros contos de Gerbase, publicados em Comigo Não (1987). As intrigas mesquinhas do ambiente universitário foram recentemente esmiuçadas em Professores (2006) - e a parte da história situada no presente é uma continuação com intriga policial desse romance anterior, com até o mesmo elenco de personagens professores, flagrados alguns anos depois da primeira história como alvos da investigação de Otávio. Com a obra, Gerbase se candidata a escritor capaz de, com sucesso, ao mesmo tempo respeitar e subverter as rígidas normas do policial, um dos gêneros de demarcações mas estanques.